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Rodrigo Mattos

Morumbi só terá padrão Fifa com reforma muito mais cara

rodrigomattos

24/05/2014 06h00

O projeto de reforma estádio do Morumbi emperrou por conta de resistências da oposição são-paulina e falta de dinheiro. A diretoria do São Paulo classificou o estádio como velho e ultrapassado e não desistiu de modernizá-lo para concorrer com os novos de Corintihans e Palmeiras. Mas, para isso, será necessária uma reforma muito mais cara do que a projetada inicialmente. Essa é a avaliação de arquitetos que atuaram na Copa-2014.

O orçamento da reforma barrada era de R$ 460 milhões, prevendo a cobertura e a montagem de uma arena. Só que todos os arquitetos apontam outras necessidades para de fato modernizar a arena, como melhoria de visibilidade e de acesso de público. Foram esses itens abordados em estádios do Mundial, cujas reformas tiveram orçamentos bem maiores. Também deveria se analisar se a demolição e reconstrução não sairia mais barato.

"O Mineirão era um estádio olímpico em que a torcida ficava muito distante do campo. O Morumbi tem o mesmo ponto. No Mineirão teve que se fazer um rebaixamento de gramado de 3m40cm. Muda toda a conformação da obra", explicou um dos arquitetos da reforma do estádio mineiro Marcelo Fontes.

O arquiteto admitiu que seria muito mais fácil se fosse um estádio feito do zero, mas afirmou que só os dirigentes do São Paulo podem avaliar se financeiramente isso é melhor. "Tem que levantar o que existe de estrutura", analisou. A reconstrução do Mineirão saiu por quase R$ 700 milhões. Além do rebaixamento, teve que ser destruída parte das arquibancadas e vários dos acessos para melhorar a saída e entrada do estádio.

Para o arquiteto Sérgio Coelho, que projetou a Arena Pantanal, a modernização do Morumbi com o padrão Fifa deve exigir um valor cima de R$ 600 milhões. Ele se baseia no estudo feito pelo escritório alemão GMP quando o estádio são-paulino ainda era candidato a sede da Copa-2014. Para ele, o clube tem que avaliar se vale à pena a reforma.

"É bastante complicado atingir as mesmas condições da Arena Palestra ou da Arena Corinthians. Tem algo que é bastante complexo que é a evacuação do estádio. Mas a primeira questão é a geometria. Foi projetado em outro tempo então tinha uma distância grande para o gramado, com a pista de atletismo", observou.

É unânime entre os arquitetos que a pista deveria ser excluída, com o avanço de parte dos anéis em direção ao gramado, o que aproximaria o público do jogo. Isso não estava previsto no recente projeto de reforma do estádio.

"Na Fonte Nova, tivemos que rebaixar o gramado para atender a visibilidade pedida. O Beira-Rio não rebaixou por questões de lençóis freáticos. No Morumbi também havia essa questão. Teria que desviar o córrego e tem que ver se o clube quer arcar com isso", contou o arquiteto da Fonte Nova Marc Duwe, que ressaltou o fato de ter tido facilidade pelo estádio baiano ter sido demolido e reconstruído.

Outra questão é a realização de shows no local. O projeto do novo Morumbi previa, ai sim, uma arena para eventos que seria explorada por investidores. De fato, se não realizar a reforma, o estádio vai ficar para trás como espaço para grandes shows por problemas para o fluxo de montagem de estruturas. As arenas modernas têm aberturas específicas para esse fim.

"Na Fonte Nova, temos um área Sul para diversos eventos que nem precisam atrapalhar os gramados. Não interfere no futebol", lembrou Duwe.

Responsável pelo Itaquerão, o arquiteto Aníbal Coutinho não quis falar diretamente sobre o Morumbi por entender que haveria um conflito ético com o projeto do Corinthians. Mas analisou conceitualmente a modernização de arenas velhas.

"A questão é atingir o nível de visibilidade no mínimo 6 ou 7 que é a pedida pela Fifa. Isso é medido levando-se em conta a cabeça do espectador da frente. Também têm que ser consideradas as placas de publicidade que cresceram. Tem que fazer uma parábola para ver se dá. É muito difícil fazer com um estádio muito grande, especialmente de mais de 70 mil pessoas. Quanto maior, mais difícil", contou o arquiteto da arena corintiana.  "Outra questão é o nível de hospitalidade. Tem que garantir que apesar da inclinação maior pela visibilidade, o espectador fique confortável."

Independentemente da escolha dos são-paulinos, para chegar ao patamar dos estádios dos rivais, é certo que terá de se gastar muito dinheiro, mais do que pensavam os dirigentes até agora.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.