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Rodrigo Mattos

Chefe da seleção tem agências de jogadores ativas, mas promete encerrá-las

rodrigomattos

24/07/2014 06h00

O novo coordenador técnico da seleção brasileira, Gilmar Rinaldi, tem duas empresas de agenciamento de jogador ativas, uma delas na Holanda e outra no Brasil. Ao blog, ele afirmou que vai modificar as firmas e acabar com a atividade de empresariar atletas. A negociação de jogadores representa um conflito de interesse com o cargo na CBF.

Na semana passada, Rinaldi assumiu o posto de coordenador na confederação. Logo, disse que tinha se desligado da representação de jogadores, e tirou seu registro de agente de atletas da Fifa.

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Só que ainda há duas empresas pertencentes a ele que estão ativas e que têm como um dos fins o agenciamento de jogadores. São a Gilmar Marketing, Comércio Assessoria e Serviços Ltda, com sede em São Paulo, e a Gilmar Sports CV, com sede em Amsterdã, capital da Holanda, como mostram documentos obtidos pelo blog. A última é controladora da primeira empresa.

Na descrição dos objetos da empresa brasileira está "agenciamento de profissionais para atividades esportivas, culturais e artísticas". No estatuto, está escrito: "prestação de serviços de consultoria, assessoria, intermediação de serviços e marketing e promoções de eventos ligados ao esporte."

A empresa tem como sócia majoritária a Gilmar Sports CV, e minoritários, Rinaldi e sua mulher. Seu capital é de R$ 4,1 milhões, praticamente tudo pertencente à sociedade empresarial holandesa. O que significa que o dinheiro do novo chefe da seleção gira em boa parte do tempo no exterior.

"Esses valores são referentes aos imóveis que tenho principalmente no Brasil. Não vou fechar a empresa. Mas vou mudar o objeto delas. Não haverá mais o foco no esporte. Só vai ficar a administração de imóveis", explicou Gilmar Rinaldi ao blog. "O que vai mudar é a razão social dessa empresa e a da outra (da Holanda)."

Segundo Rinaldi, isso só não foi feito anteriormente por falta de tempo. Mas o seu contador e seu advogado já foram procurados com esse objetivo. Ele assumiu a seleção, portanto, com as empresas ainda ativas. Sua firma no Brasil já fora modificada no final do ano passado para se tornar sociedade empresária até porque o capital quadruplicou, de cerca de R$ 900 mil para R$ 4 milhões.

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O chefe da seleção explicou que sua principal empresa fica na Holanda porque a maior parte do dinheiro era movimentado no exterior. "Todas as entradas de dinheiro para o país estão registradas no Banco Central e nas declarações de imposto de renda."

As remunerações vieram de negociações de jogadores, segundo Rinaldi, mas ele não tem contrato com nenhum atleta. "Não tem nada de percentual de jogador nestes bens. Nunca tive contrato com jogador. Recebia pelas transações feitas", observou.

O encerramento das atividades de agenciamento não é a única pendência a ser resolvida pelo novo chefe de seleções da CBF. Sua empresa Gilmar Marketing tem dois processos judiciais contra clubes brasileiros, Botafogo e Palmeiras. Eventualmente, esses times podem ter jogadores convocados à seleção, o que geraria novo conflito de interesse.

Gilmar Rinaldi também promete encerrar os processos."São coisas antigas, pequenas. Já falei para o advogado resolver. Dei a orientação neste sentido. Não deu ainda para fazer porque tem muita coisa", afirmou Rinaldi.

O processo contra o Palmeiras iniciou-se neste ano, e há um cobrança de R$ 583 mil. Em relação ao Botafogo, a ação é de 2009, mas neste ano houve uma penhora de R$ 229 mil sobre as rendas avinagras. O blog não conseguiu contato com os departamentos jurídicos dos clubes para saber quais transações de atletas geraram essas cobranças.

Uma curiosidade: em ambas as empresas, o nome de Gilmar está grafado diferente de como ele é conhecido. Nas companhias, o sócio é Gilmar Luiz Rinaldo, embora se refira ao novo coordenador de seleções da CBF.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.