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Rodrigo Mattos

Grêmio pode reduzir punição por racismo se ajudar investigação

rodrigomattos

29/08/2014 06h00

Não faltam câmeras na Arena Grêmio para identificar os torcedores que ofenderam o goleiro Aranha, do Santos, com atos racistas. São 239 entre os circuitos internos e externos, como mostram os dados do site do estádio. As câmeras da ESPN pegaram alguns, mas  será que todos os que gritaram a ponto de o jogador ouvir?

Não faltam motivos para o time do Sul tentar identitificá-los já que, além de moralmente correto, isso vai influir na pena que o clube pode sofrer pelos atos de seus torcedores. As punições previstas no CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva) vão de uma simples multa até a exclusão do campeonato, quase impossível. Dependerá de quanto a agremiação do Sul se desvincular dos torcedores envolvidos no caso.

Explica-se: o código prevê a punição por atos discriminatórios pelo artigo 243-G. Pela leitura do texto, fica claro que punição padrão para atos racistas de torcedores é a multa entre R$ 100,00 e R$ 100.000. Perdas de pontos e exclusão do campeonato são usados quando pessoas vinculadas a uma entidade esportiva são responsáveis pela discriminação. Em geral, isso se aplicaria a jogadores, comissão técnica e dirigentes.

Ora, para se desvincular dos torcedores acusados de racismo, o Grêmio tem que usar suas câmeras para identificá-los. Eles podem pegar até dois anos de banimento dos estádios pela legislação esportiva.

A questão é que o artigo sobre racismo pode ter punições mais amplas ao clube em casos considerados de extrema gravidade. Se essa for a leitura do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), pode-se aplicar uma variedade de 11 punições, desde advertência à exclusão do campeonato. Isso inclui a perda de mando de campo, como ocorreu ao Esportivo, após ofensas similares ao árbitro Márcio Chagas.

Ressalte-se que a diretoria gremista prometeu ajuda a investigação e negou que o clube seja racista. O problema é que justificou a agressividade dos torcedores por erros de arbitragem. E, pelos relatos de torcedores colorados, não é a primeira vez que parte dos gremistas imita macacos em estádios.

Resta ao Grêmio, que tem e teve jogadores e ídolos negros, demonstrar com medidas práticas que não tem relação com atos racistas. Como consequência, poderá reduzir sua punição. Por isso, as penas aos clubes por atos de torcedores fazem sentido: servem como fator de educação e para exigir das agremiações medidas de prevenção a esse tipo de ato.

Quanto ao racismo no Brasil, obviamente, não será resolvido nem com punições, nem com silêncio de gritos em estádios. Perdurará por anos em um país de herança escravista. E certamente o linchamento de uma torcedora gremista não vai acabar com o problema. Que responda pelo crime perante à lei, mas que tenha seus direitos de defesa e civis preservados como qualquer um que comete uma irregularidade.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.