Fifa diz que Copa criou o triplo de empregos de todo governo Dilma. Será?
Há cerca de um mês o ministro da Fazenda, Guido Mantega, culpou a Copa-2014, entre outros itens, pela queda no PIB do Brasil no segundo trimestre. A tese foi referendada pela presidente Dilma Roussef. Mas, em relatório divulgado nesta terça, a Fifa apresentou um impacto econômico extremamente positivo do Mundial, baseado em números duvidosos principalmente para empregos.
O documento final da entidade diz: "De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, 14 milhões de empregos foram criados nos últimos quatro anos por causa da Copa do Mundo, o que equivale a 180 Maracanãs inteiros". Ou seja, o estudo da FGV, que foi feito em conjunto com a Ernest & Young, é que daria base para a afirmação da entidade.
O Ministério do Trabalho anunciou em junho que criou, de janeiro de 2011 a 2014, 5,052 milhões de empregos durante o período. Esse dado é baseado no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) em que estão incluídos todos os postos com carteira assinada. Esse número é o saldo entre as vagas extintas e as surgidas neste período.
Como se explica essa diferença visto que é o mesmo Brasil e praticamente o mesmo período? Ora, ao se consultar o estudo da FGV e da Ernest & Young, percebe-se que os números não são bem o que a Fifa mostrou. Veja o que diz o texto:
"Assim, a geração de emprego estimada aqui se refere, em princípio, apenas a ocupações temporárias. Os 3,63 milhões de empregos-ano estimados correspondem, em termos salariais, a 3,63 milhões de ocupações com duração de um ano. A distribuição exata desses empregos-ano ao longo do período 2010-2014 dependerá do cronograma preciso de realização das obras e ações."
Primeiro, o estudo fala em empregos temporários. Teoricamente, trabalhos com duração limitada não poderiam ser comparados com os números do Caged. Mas a Fifa não menciona que são atividades de cerca de um ano. Pelo contrário, cita em itens posteriores os postos que ela efetivamente considera como temporários. Seu número dá a entender que houve verdadeiro boom permanente na economia brasileira com a Copa.
Segundo, o estudo da FGV era uma estimativa feita em 2010. Não há nenhuma análise no site da fundação posterior para saber se as expectativas se realizaram. O blog tentou confirmar se a entidade já tinha feito novo estudo, sem sucesso. A Fifa, no entanto, trata as estimativas como realidade consumada.
Caso os números da Fifa sejam verdadeiros, isso significaria que a Copa envolveu cerca de 15% de toda a população economicamente ativa do país, que supera um pouco 100 milhões de pessoas. Mas, dos empregos concretos listados pela federação internacional relacionados à organização do Mundial, há apenas 67.420. Mesmo o setor de turismo falava em cerca de 50 mil empregos temporários.
Outros números apresentados pela entidade máxima futebol: estimativa de US$ 7,2 bilhões (R$ 17,2 bilhões) em impostos com atividades relacionados à Copa, outra informação baseada da FGV e da Ernest & Young. O estudo fala em R$ 18 bilhões, uma pequena diferença pela cotação do dólar.
Seria o equivalente à arrecadação anual do setor automotivo, considerandos IPI, PIS e Confins. Isso apesar de a Fifa e seus parceiros comerciais terem isenção de impostos de acordo com a Lei Geral da Copa.
Todo esse cenário róseo pintado pela Fifa em relação ao impacto econômico da Copa ocorre em um período em que o Brasil teve crescimento pequeno ou esteve em recessão, caso do primeiro semestre de 2014. Lembremos: recessão essa que o ministro da Fazenda atribui justamente ao Mundial, entre outros fatores.
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