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Rodrigo Mattos

Como Dunga reagiria se lhe tirassem a faixa de capitão em 1994?

rodrigomattos

17/11/2014 13h24

Como Dunga reagiria se lhe tirassem a braçadeira de capitão da seleção na Copa de 1994? Será que não ia esperar pelo menos explicações do então técnico Carlos Alberto Parreira? As perguntas vêm a cabeça em meio à repercussão das declarações do zagueiro Thiago Silva, que se disse infeliz por perder a faixa de capitão.

Perguntado, ele disse que não gostou de perder o posto e reclamou que Neymar e Dunga não o procuraram para comunica-lo sobre o assunto. Ora, é direito de Dunga dar ao jogador do Barcelona a faixa, assim como é direito de Thiago Silva não gostar. Não há nada que o desabone por revelar seus sentimentos. Queríamos que mentisse e desse uma declaração protocolar como vários fazem?

Dunga, de fato, poderia ter lhe explicado a situação. É dever do gestor, em qualquer área, administrar responsabilidades, egos, etc. Seu comando só se fortalece se todos entendem e consideram justas suas determinações.

Uma conversa teria evitado o segundo mal-entendido na seleção, assim como ocorreu no caso de indisciplina de Maicon. No corte do lateral-direito, Dunga e Gilmar Rinaldi se negaram a explicar qual a razão para a dispensa, o que gerou uma série de especulações que atingiu até outros jogadores. A transparência é sempre o melhor detergente.

Dito isso, o caso tem conserto. Cabe a Dunga fazer o que não fez antes. Sentar e explicar suas razões para Thiago Silva, tanto em relação à braçadeira quando a sua posição de reserva.  Já passou o tempo em que os bons chefes eram os que impunham sua vontade, gritavam e eram temidos. O diálogo é a forma mais fácil de conduzir grupos até o limite do possível. (Houve uma conversa depois da polêmica, segundo relato do jogador e do técnico. Nela, o treinador deu conselhos ao jogador. Mas eles não relataram o teor do papo)

Dunga não é burro, e sabe que o quão importante é Thiago Silva como jogador para seleção pela sua excelência técnica. O técnico só precisa refletir e se colocar no lugar do zagueiro para perceber que, por mais que seja apenas um símbolo, a braçadeira era importante para ele. Assim como foi vital para transformar Dunga no que é hoje.

PS Internautas lembram que Raí começou a Copa-1994 e perdeu o posto para Dunga ao se tornar reserva. É fato. Isso não muda o raciocínio do post de que pode-se mudar a faixa, sem pro blemas, mas que é preciso diálogo para gerir as trocas. Antes do Mundial, Parreira fez uma rotação da braçadeira entre Raí, Dunga e Jorginho. Não consta que alguém tenha ficado insatisfeito.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.