'Vamos transmitir todos os 146 jogos', diz novo dono da Liga dos Campeões
O final de outubro teve uma surpresa para o telespectador de esporte: o canal Esporte Interativo ganhou a concorrência da UEFA para os direitos de TV Paga da Liga dos Campeões, batendo uma proposta conjunta de ESPN e do SporTV. A emissora já possuía um jogo por semana na TV Aberta, que ficou apenas com a Globo. Mas, ao vencer o leilão, passou a ter direitos sobre todos as partidas em em transmissões fechadas.
A informação de mercado é de que o valor pago chegará a US$ 135 milhões por três anos. A diretoria do canal não fala sobre valores, cobertos por sigilo contratual. Nos bastidores, há a informação de que o montante seria menor. Fato é que a disputa foi acirrada porque a audiência da Liga dos Campeões explodiu em dez anos, multiplicada por três.
E o presidente da empresa, Edgar Diniz, exaltou: "Quem quiser os maiores craques do mundo até a Copa só vai ter um lugar: o Esporte Interativo." Refere-se à exclusividade em TV fechada, já que a Globo ficou com a TV Aberta.
Em entrevista ao blog, ele explica como esse é seu trunfo para negociar a entrada do canal na NET e na Sky, como vai aumentar a equipe para transmissões, sua opinião sobre a distância do futebol europeu e o brasileiro, e a explosão dos preços dos direitos de competições esportivas.
O que muda para o canal sair da TV Aberta para a fechada na Liga dos Campeões?
Edgar Diniz – É uma mudança de patamar importante. Tínhamos um jogo por rodada e agora teremos a missão de sermos os donos exclusivos da tv paga, e ser referência da liga no Brasil. É outro peso e responsabilidade. Temos visão para elevar a outro patamar. Vamos transmitir todos os jogos, oito simultâneos, com narração e comentário em português. A gente vai fazer as transmissões em tv a cabo. O que não tiver na tv linear estará na internet para quem tem o Esporte Interativo.
O quanto se expande a escala da sua operação?
Edgar Diniz – É uma mudança de escala. Isso faz a gente investir em vários aspectos. Todos os jogos serão transmitidos em HD. Vamos ter que fazer um investimento em estrutura e equipe. Será um desafio. E teremos a transmissão Copa do Nordeste em fevereiro. A gente cresce mais de 50% nos investimentos do canal (em estrutura).
Mudou a estrutura acionista do canal?
Edgar Diniz- Os donos do canal continuam os mesmos. A Turner continua a ser acionista, e somos majoritários.
Como estão as negociação para entrar na NET e Sky com um canal exclusivo? Há possibilidade de transmitir jogos nos canais da Turner que já estão na grade como Space e TNT?
Edgar Diniz- A gente tem conversas que já acontecem, mas não podemos entrar em detalhes. A gente criará valor para as operadoras, criando valor para os assinantes. Elas (operadoras) são intermediárias. As operadoras querem entregar o melhor conteúdo aos seus assinantes. Temos a Liga dos Campeões e outros esportes, e as operadoras vão querer prover o conteúdo ao assinante. Quem quiser os maiores craques do mundo até a Copa só vai ter um lugar: o Esporte Interativo. É lá que estão Cristiano Ronaldo, Messi, Neymar, David Luiz, e os outros brasileiros. A ideia é ter um canal de esporte exclusivo para transmissão (na grade da NET e Sky): o Esporte Interativo.
Quanto a Liga dos Campeões cresceu desde que vocês transmitiram em 2004?
Edgar Diniz- Desde 2009 foi um crescimento espetacular. Nossa experiência começou em 2004 quando tivemos os direitos e lançamos a marca na Rede TV e depois Band. A Liga dos Campeões cresceu demais. Consolidou-se como o maior campeonato do mundo. Todos os craques disputam a Liga. O melhor jogador do mundo sempre foi um jogador que disputou a Liga dos Campeões, e nunca deixou de disputar desde sua criação. No Brasil, houve um movimento importante: a evasão dos grandes craques de 80 e 90. Cada vez foram mais jovens para Europa. Isso fez a conexão com os ídolos, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká. Os brasileiros começaram a torcer para os times estrangeiros. Houve explosão de venda de camisas de times estrangeiros no Brasil. Ainda houve os videogames, onde a molecada quer jogar com Messi e Ronaldo. Só querem usar esses times estrangeiros no videogame. Assim, cresceram as marcas desses times, e as torcidas desses times. Houve um crescimento de 60% de audiência nestes últimos anos. E foi três vezes mais em relação a 2004.
Você entende que esse crescimento é fruto do enfraquecimento do futebol brasileiro?
Edgar Diniz- É muito mais fortalecimento do futebol europeu como grande centro do futebol. É polêmico esse tema. Não é só em relação ao futebol brasileiro. É também com a Argentina, Uruguai, e a América Latina inteira, a África, mesmo da Europa. O futebol dos países dos grandes centros virou um grande negócio, os grandes times estão na Europa. Estão gerando cada vez mais receita, o que ajudou a reforçar esse movimento de saída de jogadores jovens. É impossível qualquer time de qualquer mercado disputar os grandes craques com os europeus. O futebol brasileiro poderia gerir o futebol melhor? Poderia. Mas é enorme o destaque da Liga dos Campeões, como a melhor e mais bem gerida marca do mundo. Tudo funciona: a criação de marca, hino da competição… Jogadores comentam que é muito diferente de qualquer outra competição.
Mas você vê o futebol brasileiro em decadência? Preocupa-se com o enfraquecimento do produto nacional?
Edgar Diniz – É importante separar dois aspectos, seleção e Brasileiro. Me preocupa que os campeonatos do Brasil tenham se enfraquecido. Gostaria de ter craques. É um mercado que tem um tamanho que pode se desenvolver, e segurar jogadores por mais tempo. Não adianta negar. Vejo alguns dizerem que o Brasileiro é uma das lidas mais fortes. Não é. A qualidade é incomparável com os campeonatos europeus, e principalmente com a Liga dos Campeões. Sou Flamengo e gostaria que meu time tivesse craques, e os rivais também. Gostaria que o futebol brasileiro se fortalecesse.
Vocês têm intenção de expandir sua atuação em compras de direitos no mercado nacional?
Edgar Diniz – Agora estamos concentrados: nosso foco é fazer a melhor cobertura da Liga dos Campeões. Não encaramos como moeda de troca. É a grandeza (da Liga dos Campeões) que nos ajuda a nos consolidar como canal muito importante no Brasil. Temos a Copa do Nordeste que é muito bem sucedida. O maior público do ano no Brasil foi a final entre Ceará e Sport. Neste aspecto, estamos fazendo um trabalho muito parecido com o que se faz lá fora. Criamos uma bola, sorteio de chaves (para a Copa do Nordeste). A gente criou junto com a CBF a Copa Verde, incluiu Norte e Centro-oeste. Com elas, pode-se ajudar a ter jogo no futebol brasileiro o ano inteiro. Temos os direitos de marketing, e por isso promovemos a competição.
Os direitos de transmissão da Liga dos Campeões são para todos os jogos. Vão transmitir todos?
Edgar Diniz – Todos os jogos da competição, 146. Tudo a partir da fase de grupos, vamos fazer. A gente vai usar alguns da fase eliminatória.
Mudará o pacote para assinantes atual do Esporte Interativo?
Edgar Diniz – Isso ainda está sendo decidido: formato e preço, que pode evoluir. Estamos olhando. Não podemos divulgar ainda.
Com o Esporte Interativo, são quatro canais pagos de esporte no Brasil (Espn, Fox Sports e Sportv). Você entende que há espaço para tantos canais na TV paga brasileira?
Edgar Diniz – Acho que tem espaço para quatro canais. O mercado cresceu muito nos últimos anos. O esporte é o conteúdo mais importante na tv paga. Criamos um mercado no Nordeste. Estamos criando conteúdos que não existiam. Neste caso, é uma região que está crescendo mais do que o mercado brasileiro. Ainda está crescendo esse mercado. Existe um olhar (das TVs pagas) para tentar repetir o que outros estão fazendo e tirar conteúdo. Mas temos o exemplo do Nordeste atraente que não é levado para TV Paga. A nossa cultura é voltada para Sudeste e Sul. E o Brasil vai além disso. Quando compramos o Mundial de Handebol foi um sucesso absurdo. Foi tão bem sucedido que houve um movimento grande para assistir à final de handebol de quem não conseguia ver o Esporte Interativo. Depois, o SporTV comprou os direitos. Perdemos os direitos, mas, antes de transmitirmos, ninguém achava atraente. Se todo mundo olhar o que o outro está fazendo vai acontecer o funil que você falou. Se olhar para eventos que não são transmitidos, pode aumentar.
Qual seu investimento em direitos de esportes olímpicos?
Edgar Diniz – A gente tem competições do judô, Grand Prix e Grand Slam, e do Taekwondo. Temos as melhores competições desses esportes. Olhamos outras oportunidades. Fazemos uma cobertura de esporte olímpica constante. Não cobrimos apenas na Olimpíada.
O mercado de direitos de futebol brasileiro não está inchado demais? Subiu muito acima da inflação seus valores?
Edgard Diniz – Está subindo acima da inflação. Não é um fenômeno brasileiro. A TV Paga tem maior dependência de eventos ao vivo agora. Todos os outros conteúdos deveriam ser sob demanda, não faz sentido que sejam oferecidos em canais lineares. E, antes, a indústria de tv paga foi baseada em canais lineares. O grande motivo para assistir canal linear agora são eventos ao vivo. É o esporte é o gênero de televisão que continua a ter ao vivo. O valor dos direitos de eventos esportivos está explodindo, nos EUA, na Europa, na Ásia. Cresce e se expande. É do meu interesse que não continue subindo dessas formas porque aumenta os custos para o canal. Mas, sendo bem honestos, acho que vão continuar subindo.
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