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Rodrigo Mattos

Estado deixa Mineirão mais barato e turbina ganhos de Cruzeiro e Galo

rodrigomattos

26/11/2014 06h01

Entre os principais estádios do Brasil, o Mineirão tem um dos custos mais baixos do Brasil para Atlético-MG e Cruzeiro, que disputam a final da Copa do Brasil no local. Explica-se: um modelo de PPP (Parceria Público-Privada) entre o governo do estado e a Minas Arenas leva, indiretamente, parte da conta para os cofres públicos. Quem se beneficia são os clubes com rendas maiores.

O blog fez um levantamento dos gastos de três jogos de cada um dos estádios dos times com melhor média de público no Brasileiro, além dos mineiros. São Internacional (Beira-Rio), São Paulo (Morumbi), Corinthians (Itaquerão) e Flamengo (Maracanã). Todos têm custos maiores do que o Mineirão apesar de três deles serem privados.

Nas três últimas partidas, o Cruzeiro ficou com 68% da renda total (o restante é receita da Minas Arena ou despesa), o Corinthians com 62%, o São Paulo, com 50%, o Inter, com 62%, e o Flamengo com 23%. Com exceção do Morumbi, são arenas modernas construídas para a Copa como o Mineirão. Em duas partidas medidas, da Copa do Brasil, o Galo ficou com 66% da receita.

Um dos motivos é que desde o ano passado nem atleticanos, nem cruzeirenses pagam parte das despesas do estádio como limpeza, apenas bancam a sua própria operação. O Galo utilizou-se de uma cláusula da PPP para não arcar com o valor na final da Libertadores e, a partir daí, o clube celeste também deixou de quitar o montante por exigir igualdade de condições. Na versão da diretoria do Cruzeiro, isso representaria R$ 80 mil por jogo. Mas o valor pode ser maior.

"Todos os times que mandam seus jogos no estádio são responsáveis pelas despesas operacionais. A questão com o Cruzeiro está sendo tratada internamente com o clube", afirmou a assessoria da Minas Arena. Na prática, a administradora cobra, o time ignora. O Estado de Minas confirma que abriu exceções, previstas no contrato da PPP, para jogos do time alvinegro e celeste, mas que não vale para todas as partidas.

Com isso, a renda operacional da concessionária é comprometida. Mas o contrato prevê que o Estado pague à Minas Arena R$ 3,5 milhões garantidos pela operação caso não seja obtido nenhum lucro. "A concessionária precisa também cumprir metas financeiras e, caso registre prejuízos a partir do 24º mês de operação do estádio, os pagamentos feitos pelo Estado poderão ser reduzidos em até 60%", contou a Secretaria de Turismo e Esporte de MG em nota. Sem o lucro, quem cobre as despesas, de fato, são esses pagamentos dos cofres públicos.

O governo do Estado nega que financie os clubes. Mas a informação é de que o Estado paga R$ 12 milhões por mês entre custos de construção (R$ 7,5 milhões), e para cobrir a operação do Mineirão (R$ 3,5 milhões). Se houvesse lucro, o segundo valor cairia.

Esse número, no entanto, é tratado de forma obscura e não é divulgado como deveria por lei. O blog enviou perguntas à Minas Arena e à Secretaria de Turismo e Esporte de MG sobre qual o valor exato da parcela atual, mas nenhum dos dois lados respondeu. Nenhum dos dois também informou se houve lucro na operação do estádio. Trata-se de dinheiro público, lembre-se.

"Não existe garantia de rendimento do Estado para a Concessionária, que pode ter prejuízo em sua administração do Mineirão", informou a Secretaria de Turismo. Em seguida, explicou que o pagamento da operação do estádio é feito com base em indicadores de desempenho. 

Não é só isso. Pelo contrato, a administradora do estádio fica com setores caros que geram R$ 800 mil em jogos rentáveis como Cruzeiro e Goiás, ou Atlético-MG e Flamengo. Camarotes também estariam entre as receitas, mas não pouco significativos até o momento. Enquanto isso, a receita dos clubes ultrapassa R$ 2 milhões com todo o restante da bilheteria.

"No caso do Cruzeiro, contamos com um estádio de 1a linha sem ter custo nenhum de construção. É justo que tenha contrapartida para a Minas Arena", contou o diretor de marketing do Cruzeiro, Marcone Barbosa, que nem pensam em uma casa própria neste cenário. "A situação é muito favorável ao Cruzeiro. Cobramos o ingresso até 20% mais barato em 54 mil lugares. E nosso ingresso aumentou com novo Mineirão."

Em 2013, o clube ficou com cerca de R$ 40 milhões em bilheteria. Com a receita turbinada da final, estimada em R$ 10 milhões, a expectativa é de que esse número chegue até R$ 45 milhões pelo menos em 2014. Em comparação, o clube ganhava menos de R$ 20 milhões em 2009, antes da reforma do Mineirão. O estádio ainda é o principal atrativo para o sócio-torcedor.

Apesar de preferir o Independência, o Galo ganhou R$ 4 milhões líquidos em dois jogos da Copa do Brasil com percentual de ganho igual ao do Independência.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.