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Rodrigo Mattos

Corinthians não pode cobrar menos de R$ 40 o ingresso. É o contrato

rodrigomattos

28/03/2015 06h00


Por contrato firmado com o fundo dono do estádio, o Corinthians é obrigado a cobrar o mínimo de R$ 40,00 em ingressos de arquibancada para jogos no Itaquerão. Esse preço é para os setores mais populares e os outros lugares têm patamares maiores. O acordo impossibilita que o clube tenha uma política popular de bilhetes para sua torcida.

O blog obteve o "Contrato de operação de Equipamento Esportivo, Agenciamento e outras avenças" que estabelece as condições comerciais da gestão do estádio pelo clube. O documento foi assinado pelo Corinthians e pelo Arena Fundo de Investimento Imobiliário – FII, que é controlado indiretamente pela Odebrecht. O texto prevê que o time alvinegro pode ser excluído da gestão da arena caso não obtenha R$ 336 milhões nos próximos três anos na arena.

Justamente para atingir esse patamar o contrato estabelece na cláusula quarta "valores mínimos de comercialização". Diz o texto do item 4.1: "Os direitos de exploração da Arena e das Propriedades Imaterias somente poderão ser negociados pelo clube, em nome do fundo, por valores iguais ou superiores aos valores mínimos constantes do Anexo 4.1 a este contrato".

Contrato diz que devem haver valores mínimos para propriedades do estádio

Contrato diz que devem haver valores mínimos para propriedades do estádio

No anexo, constam os seguintes preços: R$ 40,00 para as alas Norte (organizadas) e Sul (parte de visitantes). Esse patamar mais baixo representa pequena fatia disponível para o estádio. Boa parte dos ingressos destes setores mais populares vai para organizadas, o que reduz a carga para o público comum.

Para a ala leste superior, o valor mínimo do contrato é de R$ 80,00 e, para a ala leste inferior, de R$ 150,00. Esses setores são os que recebem o maior número de corintianos que não são de uniformizadas.

Se observarmos os preços praticados pelo Corinthians desde o ano passado, houve uma inversão nos valores dos setores leste superior e inferior por conta da questão da cobertura e da própria demanda da torcida, que preferiu o lugar mais alto. Feita a inversão, os preços são justamente o patamar mínimo. No caso do Norte e do Sul, o clube ainda pede R$ 10,00 a mais do que o mínimo exigido.

Em relação ao setor oeste, o contrato determina que sejam cobrados R$ 40,00 de ingresso, mais um valor entre R$ 30,00 e R$ 180,00 de catering. De novo, no preço do bilhete, o Corinthians tem respeitado o acordo ao pedir R$ 250,00 e R$ 450,00 para esse lado do estádio.

Preços mínimos para cada setor estabelecidos por contrato

Preços mínimos para cada setor estabelecidos por contrato

O contrato ressalva que os valores mínimos valem para o preço cheio do ingresso. Pela cláusula 4.1.4, o clube pode dar descontos ao "Fiel Torcedor" pelo regulamento vigente, ou por lei, no caso de estudantes e idosos. Isso tem acontecido.

Fora isso, o Corinthians precisa pedir autorização por escrito ao fundo para reduzir os bilhetes. A solicitação tem que ser feita com justificativa que explique como isso aumentará a receita do estádio. A partir daí, o fundo decide se permite a promoção.

Os valores mínimos foram estabelecidos em comum acordo entre o fundo e a diretoria corintiana com base no mercado no meio do ano passado. É possível fazer uma revisão a cada início de ano.

Lembre-se que, desde a inauguração do Itaquerão, torcedores têm criticado Andrés Sanchez, responsável pelo estádio, pelos preços praticados no estádio. Faixas como "Andrés, aqui não tem burguês" mostravam a insatisfação com o aumento em relação ao Pacaembu.

O dirigente sempre argumentou que tinha de manter os preços altos para pagar a construção do estádio. Agora, fica claro que ele sequer tem autonomia para reduzir os valores por conta própria além de determinado patamar, sendo necessária autorização do fundo.

Questionado sobre os preços mínimos dos ingressos, o Corinthians se recusou a comentar alegando que o contrato é confidencial. A Odebrecht argumentou que não poderia falar sobre um compromisso entre o clube e o fundo, além de também ressaltar a confidencialidade do documento.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.