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Rodrigo Mattos

Repetindo Ferj, Federação Paulista danifica credibilidade do Estadual

rodrigomattos

09/04/2015 13h31

Há alguns anos os Estaduais têm perdido interesse do público pelo baixo nível técnico dos jogos. Em vez de tentar recuperá-los, as federações executam manobras que geram suspeitas sobre sua lisura. Depois da Ferj (Federação de Futebol do Rio de Janeiro), foi a vez de a FPF (Federação Paulista de Futebol) manchar a credibilidade do seu campeonato.

Primeiro, a entidade flexibiliza o seu regulamento para permitir que todos os grandes possam jogar na capital, ao contrário do que previa a regra. Segundo, anuncia o patrocinador do Palmeiras como parceiro da arbitragem do campeonato, sim, pagará as taxas dos juízes. Tudo nesta quinta-feira, pouco antes da fase final do Estadual.

Vamos aos fatos. O regulamento diz que os dois melhores grandes têm direito a jogar na capital, e que os outro deve atuar fora do município. A ideia era de que não poderia haver duas partidas do trio de ferro no mesmo dia porque isso representaria um problema de segurança. Mas o verbo usado foi "dever", o que possibilita ignorar esse artigo e fazer acomodações.

Foi o que fez a FPF (Federação Paulista de Futebol): marcou jogos de São Paulo e Corinthians para sábado, em horários diferentes. Assim acomodou o Palmeiras no horário das 11 horas da manhã de domingo.

Nada contra os palmeirenses jogarem em seu estádio (entendo que é correto que tenham esse direito). Mas para que foram feitas regras em sentido contrário? Ou existe um problema de segurança para dois grandes atuarem no mesmo dia, e o regulamento tem que ser seguido, ou não há conflito nenhum e o texto não vale nada. O que não dá é para ignorá-lo no meio do Paulista por conveniência.

Na questão da arbitragem, é óbvio o conflito de interesse de a Crefisa patrocinar os juízes e o Palmeiras ao mesmo tempo.  Como patrocinadora do time alviverde, a empresa financeira certamente quer quer o time conquiste títulos, se transforme em um caso de sucesso, e aumente a exibição da sua marca. Um troféu no início da parceria viria bem a calhar.

Ora, os árbitros do Paulistas, nem precisa explicar muito, têm influência no sucesso do Palmeiras no campeonato. Não se diz aqui que haverá uma manipulação dos juízes, que parece bem improvável. Mas a simples suspeita de que isso possa acontecer já mancha o campeonato. Qualquer falha do árbitro em favor do Palmeiras será vista como manobra da federação.

É um caso similar ao que ocorre no Rio de Janeiro em relação ao Vasco e o presidente Rubens Lopes. A série de pênaltis em favor do time vascaíno é vista como parte de um complô por boa parte dos torcedores rivais. Uma campeonato não tem que simplesmente ser sério, ele tem que parecer sério aos olhos do público. Foi disso que a FPF abriu mão nesta quinta-feira.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.