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Rodrigo Mattos

Dívida do Galo cresce R$ 128 mi com Kalil. Ele rebate: 'Foram os juros'

rodrigomattos

30/04/2015 06h00

Bernardo Lacerda/UOL Esportereeleito-presidente-do-atletico-mg-alexandre-kalil-ao-lado-do-vice-presidente-daniel-nepomuceno-15122011-1323979334552_615x300
Presidente alvinegro mais vitorioso dentro de campo, Alexandre Kalil encerra sua gestão no Atlético-MG com um crescimento da dívida de R$ 128 milhões em seis anos. O dirigente, no entanto, contesta: afirma que o aumento foi causado por juros sobre débitos que já existiam quando ele chegou ao clube.

Vamos aos fatos com argumentos do blog e do ex-cartola atleticano. Primeiro, o balanço do Galo de 2014 fechou com um prejuízo de R$ 48 milhões com gastos maiores do que a receita. Com isso, a dívida líquida saltou para R$ 487 milhões.

Ao final de 2008, quando Kalil assumiu o Galo, o débito líquido era de R$ 265,2 milhões. Corrigido pela inflação nos últimos seis anos, esse valor chega a R$ 359,2 milhões. Assim, a diferença é de R$ 128 milhões. Em contrapartida, o clube teve um salto de receita de R$ 53 milhões para R$ 179 milhões.

Há três problemas principais na atual dívida atleticana: compromissos com jogadores, o débito com o governo parcelado no Refis (programa de refinanciamento fiscal), e o eterno passivo com o BMG/Ricardo Guimarães. Abaixo a discussão ponto a ponto com argumentos de Kalil e do blog:

1- Aumento da dívida

Kalil

"Com exceção do passado, não aumentamos a dívida que já existia. Quando jogar a dívida para trás e calcularmos os juros, ficou na metade do que deveria ser. A dívida deveria ser R$ 1 bilhão. É argumento de criança dizer que aumentou sem pensar nos juros." Com aplicação de juros bancários, (entre 1,5 e 1,6% mês), o débito cresceria para entre R$ 775 milhões e R$ 1,1 bilhão. Ele ainda argumenta que só teve prejuízo operacional em 2014.

Blog

O débito que tem juros bancários é uma parte do passivo do clube de pouco mais de um terço do total. O restante é composto pelos compromissos fiscais, que são reajustados pela Selic e outros passivos. Fato é que Kalil não agiu para reduzir as pendências bancárias do Atlético-MG, e só arrumou uma solução para a questão fiscal no final. Com despesas altas, o débito cresceu.

2 – Dívidas com jogadores

Kalil

"A folha do Atlético-MG é de R$ 6 milhões. Quando saí do clube, assinei um documento dizendo que estava com um mês de direito de imagem atrasado. Reconheci isso. Agora, não gastei com contratação para montar o time. Não saí fazendo loucura."

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O débito registrado do Galo com jogadores é de R$ 31 milhões, quase inteiramente criado em 2014 pois o valor era R$ 800 mil no ano anterior. Dentro desse montante, há rescisões de jogadores, direitos de imagem, direitos econômicos, e intermediação de negócios.

3- Débito com o governo

Kalil

"Deixei de pagar alguns impostos em algum momento. Arrumei o problema de 107 anos do Atlético (sem títulos). Não assumi o Atlético só para ser arrumadeira (de contas)."  O dirigente argumenta que, com a nova inclusão no Refis, o clube economizou R$ 78 milhões em multas e encargos, e agora pagará em torno de R$ 600 mil por mês.

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A dívida fiscal era de R$ 131 milhões (R$ 177 milhões corrigidos pela inflação) e chegou até um patamar superior a R$ 300 milhões durante o ano de 2014. Ou seja, é fato que o Galo sob Kalil deixou de pagar impostos e aumentou o débito fiscal. Antes da saída, ele obteve o Refis e o desconto: o valor atual é R$ 234 milhões.

4- Empréstimos de Ricardo Guimarães (ex-presidente do clube) e seu banco BMG

Kalil

"Essa dívida já vinha da gestão do Ricardo Guimarães, que não é meu amigo. Acho que o clube pagava R$ 200 mil por mês na minha gestão. Não sei quanto está agora. Foi uma dívida que ele fez com ele mesmo (quando era presidente). Não peguei empréstimo com ele."

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Em 2008, o débito com instituições financeiras, a maior parte com o ex-presidente Ricardo Guimarães ou seu banco BMG, estava em R$ 106 milhões (R$ 146 milhões corrigidos pela inflação). Esse total saltou para R$ 177 milhões. Os juros incidentes eram CDI ou taxas bancárias, mas foram renegociados para baixo. Pouco foi pago, e não houve novos empréstimos.

5 – Resultados esportivos x finanças

Kalil

"Sou o mais bem-sucedido dirigente do futebol. Não sou modesto. Participamos de uma competição e todos querem vencer. Se mudar daqui a 40 anos, podemos falar em fair play financeiro. Eu defendo isso. Mas todo mundo tem que fazer. Não adianta um só fazer"

Blog

Os méritos esportivos de Kalil no Atlético-MG são inegáveis: ganhou a Libertadores, e outros títulos em um clube antes de raras taças. E, sim, essa é a lógica da maioria dos cartolas: apostar no campo, a despeito do resto. É o que levou os times à difícil situação financeira atual. O crescimento esportivo tem que ser sustentado pelas finanças ou compromete o futuro.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.