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Rodrigo Mattos

Em 17 anos, Blatter distribuiu R$ 6,3 bi a cartolas em projetos da Fifa

rodrigomattos

03/06/2015 00h01

Acossado por escândalos de corrupção, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, reelegeu-se todas as vezes que se candidatou desde 1998. Há uma explicação: ele criou programas de assistência para confederações e federações que distribuíram R$ 6,3 bilhões para serem geridos pelos cartolas. É o que mostra levantamento do blog nas contas da entidade.

Ironicamente, foi um dinheiro da Fifa que seria para projeto social que, ao que tudo indica, contribuiu para a queda do dirigente. Os recursos foram usados para pagamento de propinas dos ex-dirigentes da federação Jack Warner e Chuck Blazer.

Secretário-geral na era João Havelange, Blatter se elegeu em 1998 com seu apoio. Em sua gestão, expandiu o FAP (Financial Assistance Programme), incipiente anteriormente, para dar dinheiro para as associações nacionais. De início, cada federação recebia US$ 1 milhão por quatro anos, e poderia gerir esse dinheiro da forma que quisesse, o mesmo valendo para as confederações continentais.

Em uma cena emblemática, em Congresso em Johanesburg, na África do Sul, em 2010, Blatter anunciou que o valor da assistência dobraria. Cartolas que estavam dormindo se mexeram em suas cadeiras e aplaudiram o presidente de pé.

Outro programa criado por Blatter foi o Goal. Eram recursos destinados a projetos apresentados pelas federações nacionais para construções de campos, vestiários, compra de bolas, unifomes, etc. O limite era US$ 400 mil por programa. Houve diversas denúncias de desvio nestes programas, mas pouquíssimas punições.

Juntamente com a receita da Fifa, os programas se expandiram ano a ano. Na primeira gestão de Blatter, foram distribuídos R$ 628 milhões, mas esse valor saltou para R$ 2,1 bilhões no último quadriênio com o dinheiro ganho no Brasil.

O sistema é parecido com o da CBF com distribuição de dinheiro para federações estaduais. Teoricamente, a intenção é legítima pois serviria para investir no desenvolvimento do futebol local. Na prática, serviu para agradar os cartolas das 209 federações que elegem o presidente da Fifa.

Blazer e Warner desviaram quase US$ 10 milhões do programa "diáspora africana" no Caribe. Os recursos não aparecem discriminados no balanço da federação internacional. A investigação dos EUA mostra que o dinheiro era usado para propina para votos na escolha da África do Sul como sede da Copa. O fato de o montante ter passado pela conta da Fifa complicou seu alto escalão.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.