Topo

Rodrigo Mattos

Futebol brasileiro precisa assumir o 7 a 1 e reaprender a ser vira-lata

rodrigomattos

07/07/2015 13h56

Antes de o Brasil ganhar a Copa-1958, Nelson Rodrigues repetia que o brasileiro agia como um vira-lata que sempre se sentia em inferioridade em relação aos outros. Virou expressão o "vira-latismo" nacional. Passados quase 50 anos, a maioria dos integrantes do futebol brasileiro vive uma síndrome inversa: se enxerga com uma superioridade mesmo após a goleada de 7 a 1 sofrida para Alemanha, há um ano.

O leitor certamente lembrará que a imprensa fez críticas pesadas ao técnico da seleção, Dunga, ao nível do Brasileiro, e à gestão da CBF. Mas em nenhum momento se vê essa reflexão,  de verdade, entre os treinadores e em que decide os rumos do esporte nacional.

Lembre-se: a explicação de Luiz Felipe Scolari para a goleada foi um apagão que levou ao excesso de gols alemães. Ao ser eliminado pelo Paraguai na Copa América, Dunga apressou-se em lembrar que o time sofreu de uma virose. Disse que não era desculpa, mas, em seguida, considerou a competição ótima.

Ao ler a série de críticas de veículos de comunicação, a CBF criou, de pronto, um seminário para discussão de um plano para o futebol brasileiro. Teoricamente, isso implicará em fazer um diagnóstico de todos os problemas e depois tentar resolvê-los.

Só que, no primeiro seminário realizado com treinadores, o técnico Dunga voltou fazer o discurso de que o futebol brasileiro deveria se concentrar em resgatar uma identidade nacional, e questionou a utilidade de aprender com estrangeiros. Tanto que os primeiros a serem ouvidos foram ex-treinadores da seleção.

Como bem pontuou Tostão recentemente, as seleções e times europeus não estão jogando um futebol similar ao Brasil de antigamente. Houve uma evolução, uma nova forma de atuar, novos sistemas táticos mais dinâmicos com cada vez posições mais fluídas. Portanto, o Brasil não tem que se voltar para o seu passado vitorioso: o caminho é tentar aprender com quem pratica o futebol mais moderno atual.

Será que vamos andar para frente ouvindo sugestões de Zagallo, Candinho ou Carlos Alberto Parreira, todos aposentados? Não está aqui minizando seja quais forem os méritos que tiveram no passado. Mas isso é passado, e pouco vai contribuir para o futuro.

É hora de a CBF e nossos técnicos voltarem a ser vira-latas e reconhecerem a nossa inferioridade atual sem ressalvas. É hora de aprender, sim, de ser aluno e não professor. É hora de ter autocrítica.

 

 

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.