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Rodrigo Mattos

Não é só Blatter. Cúpula da Fifa está comprometida por investigação

rodrigomattos

25/09/2015 16h44

A inclusão do presidente da Fifa, Joseph Blatter, em investigação da procuradoria geral da Suíça não complica apenas a sua situação: põe sob questão a cúpula da entidade. Além do presidente, já há acusações contra os vices Michel Platini e Issa Hayatou. Isso depois de o secretário-geral da entidade Jérôme Valcke ser afastado por suspeitas dias antes.

O cenário é de um futebol mundial em que seus chefes não têm moral para conduzir o futebol mundial. Vamos aos fatos.

Blatter é acusado de duas condutas irregulares, uma venda de direitos de tv por preços mais baixos para favorecer aliados e um pagamento de 2 milhões de francos suíços para Michel Platini, em 2011. Pelo procedimento adotado contra Valcke, na semana passada, deveria ser afastado durante as investigações pelo comitê de ética.

Os casos contra ele são mais graves do que o contra o secretário-geral já que partem da procuradoria suíça, e não de um empresário negociador de ingressos. É certo que Blatter foi eleito, e Valcke, não. Mas o Comitê de Ética tem a prerrogativa de afastá-lo temporariamente. Como terá moral para conduzir o novo processo eleitoral até fevereiro com seu escritório devassado pela polícia?

O problema é que, se Blatter for afastado ou renunciar, seu substituto é o camaronês Issa Hayatou. Trata-se de um dos cartolas que apareceu na lista dos que receberam dinheiro da ISL em um dos casos mais famosos de corrupção na Fifa. Isso já gerou o afastamento de Ricardo Teixeira e João Havelange da entidade. Por que o camaronês não saiu? Por que teria direito de assumir a presidência?

Pior é que o favorito à próxima eleição, Michel Platini, também tem muito a explicar. Ele alega que recebeu 2 milhões de francos suíços como pagamentos por serviços prestados à Fifa. Segundo a procuradoria da Suíça, foi referente a trabalho executado entre 1998 e 2002.

Platini se tornou membro do Comitê Executivo da Fifa em 2002. De 1998 até aquele ano, atuou como diretor de desenvolvimento no futebol e conselheiro de Blatter. Ok, poderia ganhar por isso.

Mas por que o pagamento ocorreu quase nove anos depois? E o que gera mais suspeitas é que o dinheiro foi recebido em fevereiro de 2011, quando Blatter tinha uma disputa com Mohammed Bin Hammam pela eleição na Fifa. Pouco depois, em maio de 2011, Platini declarou apoio à reeleição de Blatter e levou junto com ele todos os delegados da UEFA.

Como nota de página neste escândalo, o representante brasileiro no Comitê Executivo Marco Polo Del Nero continua a evitar idas à Fifa desde que foi deflagrada operação do FBI que prendeu seu parceiro José Maria Marin. Não são necessários mais sinais: a cúpula da federação internacional não tem mais condições de tocar o esporte com essas suspeitas. É preciso que terceiros indicados por órgãos externos intervenham para conduzir o novo processo eleitoral da entidade.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.