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Rodrigo Mattos

China multiplica dinheiro de contratações após passado de armações

rodrigomattos

10/01/2016 05h00

Protagonista no recente desmanche do Corinthians, o futebol chinês triplicou o investimento em contratações nos últimos dois anos, o que o tornou o eldorado de jogadores brasileiros. É uma tentativa de impulsionar a Superliga Chinesa marcada por seguidos casos de manipulação de resultados. Tanto que atletas têm feito contratos para se proteger desse aspecto nebuloso do campeonato local.

Nos anos entre 2011 e 2013, os times de futebol da China tinham investido uma média de US$ 37,5 milhões em contratações de jogadores de fora do país. Esse número subiu para US$ 102 milhões na temporada de 2014. Os dados são do TMS, empresa encarregada pela Fifa de controlar as transferências internacionais de atletas.

Em 2015, o valor já tinha crescido novamente. A estimativa é de que fechou em US$ 108 milhões no ano passado.

Relatório do TMS da Fifa indica que o maior número de contratações dos chineses é de brasileiros, com cerca de 20% dos 100 atletas que chegam ao país. A China já está à frente do Brasil e se tornou um dos 10 maiores mercados de contratações do mundo.

Mas esse crescimento convive com um passado nebuloso. Um ano antes do boom de investimento, em 2013, foi descoberto um esquema de manipulações de resultados da Super Liga Chinesa que levou à prisão de 33 dirigentes. O título de 2003 do Shanghai Shenhua foi retirado. A Pirelli abandonou o patrocínio da liga e a emissora CCTV desistiu da transmissão.

Não era um fato extraordinário no futebol chinês. O livro "The Fix", do jornalista canadense Declan Hill, mais precisa investigação sobre manipulação de resultados, mostrou que a China era o centro de esquemas de armação pelo mundo. Isso refletia na liga.

Em um dos capítulos, Hill conta que, em 2004, o gerente do time Beijing Hyundai, Yang Zuwu, chegou a retirar seu time de campo durante uma partida, e desistir do campeonato. Ao explicar sua atitude, ele alegou que a liga estava cheia de "falsos jogos, apitos nebulosos, apostas ilegais nas partidas, e outros fenômenos feitos". A investigação de Hill obteve provas que referendavam as acusações.

Precavidos, alguns jogadores brasileiros que têm ido para a China pedem para serem incluídas cláusulas em seus contratos com salvaguardas de armações em jogos. Por exemplo, em certos acordos, está previsto que caso um clube esteja envolvido em manipulação, o acordo pode ser rompido. Mais, há contratos que explicitam que o jogador não participará de esquemas.

Em resumo, o futebol chinês vive uma explosão de dinheiro para contratações por conta da injeção de empresas estatais e privadas que compraram os times. Mas ainda tem que superar uma desconfiança de anos de armações de resultados em seus campos para competir com grandes ligas.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.