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Rodrigo Mattos

Infantino ganha com estilo Blatter, mas pelo menos tem nome limpo

rodrigomattos

26/02/2016 14h14

A fase de discurso dos candidatos na eleição da Fifa foi reveladora. O europeu Gianni Infantino arrancou aplausos quando prometeu aumentar a verba para associações nacionais (os eleitores): era tática bastante adotada por Joseph Blatter. O sul-africano Tokyo Sexwale, que viria a desistir, saudou Blatter como amigo. Nova rodada de aplausos.

O problema da Fifa está em seu corpo eleitoral. Por isso, é difícil esperar uma grande ruptura na gestão do novo presidente, Gianni Infantino. O sistema continua lá com poucas mudanças. Mas há chances, sim, de algumas mudanças na entidade.

Entre as notícias positivas, está a disputa acirrada entre Infantino e o Xeque Salman Bin Ibrahim Al-Khalifa. Houve uma eleição de fato, democracia em uma entidade desacostumada do processo desde 1974. Ao final do primeiro turno, estavam quase empatados com 88 votos contra 85 em favor do europeu. Depois, o ítalo-suíço acumulou a maior parte dos votos do Príncipe Ali e venceu com 115 votos.

Infantino é um homem do sistema do futebol, aliado de primeira hora de Michel Platini, suspenso por receber pagamentos irregulares. Mas nunca foi da cúpula do futebol mundial e não tem manchas de corrupção em sua carreira.

Um currículo pelo menos mais promissor do que o do xeque que já assumiria a presidência com acusações de abuso contra os direitos humanos de jogadores do seu país Bahrein. Ainda havia denúncia de que se utilizara de dinheiro da Fifa em sua campanha para presidente da Confederação da de Futebol da Asia. Nada provado, mas suspeitas são o que a federação internacional menos precisa no momento.

Na presidência, Infantino terá o desafio de se provar um comandante que não seja centrado no futebol da europeu. Como secretário-executivo da UEFA, sua imagem está muito ligada à organização da Liga dos Campeões, e a força dos grandes clubes europeus – os astros o apoiaram em peso.

É preciso que a Fifa seja um contrapeso em favor dos outros continentes, e não que fortaleça ainda mais a já rica Europa como ressaltou o candidato Jerome Champagne. Até agora, sua principal promessa, além de dinheiro, foi aumentar a Copa do Mundo para 40 times, outra tática estilo Blatter.

Em seu favor, Infantino tem seus feitos executivos na organização da UEFA, como o fair play financeiro para clubes, a maior regulação de transferências de jogadores, entre outros pontos. É de se esperar que estenda essas medidas para o mundo.

Sua maior tarefa, no entanto, é restaurar um mínimo de credibilidade para a Fifa. É o futuro da Copa do Mundo e do futebol que estão em jogo depois de tantos escândalos de corrupção que atingiram seus principais cartolas. Infantino não deve procurar os aplausos apenas de seus pares, mas de todos os torcedores do mundo como ele mesmo reconheceu em seu discurso de posse.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.