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Rodrigo Mattos

Futebol solidário de Bota e Vasco derrota salários milionários de Fla-Flu

rodrigomattos

25/04/2016 06h00

Repete-se o enredo de 2015 no futebol carioca. De novo, Flamengo e Fluminense se apresentam como os times com mais recursos, conseguem contratações caras, se tornam mais badalados. Mais uma vez, fracassam diante de elencos modestos e de um futebol solidário de Botafogo e Vasco que chegam à final do Estadual do Rio deste ano.

Pense no tricolor Fred e no rubro-negro Guerrero. São, possivelmente, os dois maiores salários do futebol brasileiro, ambos acima de R$ 500 mil. O que fizeram os dois neste Estadual? Pouco. E na Primeira Liga? Guerrero teve uma ou outra boa atuação, enquanto Fred esteve fora da maior parte da vitoriosa campanha do Fluminense, preocupado se era escalado ou não, se tinha aumento ou não.

Enquanto isso, com parcos recursos por conta de erros de seus dirigentes passados (e no caso vascaíno também do atual), Botafogo e Vasco apostaram em um elenco recheado de garotos ou na manutenção da base de 2015. Entre os dois grupos, Nenê é o maior salário cruzmaltino, e Jefferson, o botafoguense, ambos bem abaixo de Fred e Guerrero. No restante dos dois elencos, a disparidade é ainda maior.

Pois bem, o técnico Jorginho montou um time assumidamente defensivo diante de rivais grandes. Arma sua equipe com duas linhas de marcação difíceis de serem penetradas. E faz do contra-ataque, principalmente pela direita, sua arma. Sem brilhantismo, o time é consistente, uma nota seis ou sete. Mas sempre vence uma equipe nota quatro ou cinco.

E o Flamengo de Muricy Ramalho é um time de altos e baixos que tende mais para a reprovação do que para a média para passar. Apesar de vários bons jogadores, não encontrou ainda uma forma de jogar. Uma prova disso foi a mudança do esquema na semifinal, preferindo os três atacantes aos quatro jogadores no meio de campo que vinham funcionando.

Não deu certo. O Flamengo não tinha aproximação, e insistia nas bolas longas. Não ameaçava de fato o Vasco – ainda mais porque seu centroavante e estrela Guerrero tinha atuação lamentável. A volta ao sistema anterior, com quatro no meio, de pouco adiantou. O time rubro-negro era inseguro, e o Vasco sabia o que queria e levou a vaga.

Há similaridades com a semifinal de arquibancada esvaziada entre Fluminense e Botafogo. O time de Ricardo Gomes tinha um propósito desde o início do jogo. Pressionar o rival, ter posse de bola, não dar espaços na retomada tricolor.

Do lado da equipe de Levir Culpi, a velocidade vista na Primeira Liga se perdeu em uma saída de bola deficiente com excesso de erros. Não havia troca de passes no meio de campo, nem no ataque. Fred estava lá na frente, milionário e pouco participativo.

Após o segundo tempo, houve disposição tricolor, mas não o suficiente para mudar a superioridade tática botafoguense. A lição do dia é que não há salários altos que batam um time melhor organizado. O talento faz diferença se houver uma organização que o ressalte.

Claro, isso não significa que Flamengo e Fluminense irão pior do que os rivais no Brasileiro, campeonato mais importante. O Estadual não é parâmetro para o Nacional. Aliás, a dupla acabou à frente dos outros dois em 2015 (o Botafogo estava na Série B), embora longe do topo.

Fato é que, após quatro meses do ano, independentemente da importância do Carioca, é certo que o dinheiro da dupla Fla-Flu não foi suficiente para exibir um futebol convincente. Enquanto isso, Vasco e Botafogo, de poucos recursos, já tem um caminho do que pretendem na temporada.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.