Topo

Rodrigo Mattos

Venda de time campeão faz Cruzeiro superar renda do Fla em 2015

rodrigomattos

28/04/2016 06h00

Com venda da maior parte de seu time bicampeão brasileiro, o Cruzeiro superou até o Flamengo em receitas em 2015. Nem assim o clube vive um cenário azul: houve déficit e a diretoria reconheceu dificuldades financeiras. Além disso, há uma polêmica em torno da regra contábil usada pelos cruzeirenses.

Os números do balanço do Cruzeiro foram divulgados pelo blog do Anísio Ciscotto, que é conselheiro do clube e ex-presidente do Conselho Fiscal do clube. O documento já foi aprovado no Conselho Deliberativo.

As receitas registradas foram de R$ 363,8 milhões, cerca de R$ 9 milhões a mais do que o Flamengo, que tinha maior renda entre os grandes brasileiros até agora em 2015. O item de maior faturamento foi a venda de jogadores com R$ 142 milhões. Isso incluiu atletas como Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Lucas Silva, base do time bicampeão brasileiro. Não é explicado se eram fatiados e investidores ficaram com parte do dinheiro.

Ainda assim, no balanço, a diretoria afirmou que o "exercício 2015 apresentou dificuldades ao caixa do clube" com a ausência de recursos de competições internacionais (o que é estranho visto que o time disputou a Libertadores), desclassificação cedo na Copa do Brasil e falta de patrocínio. A assessoria do clube informou que o clube não daria qualquer outra explicação sobre as contas além do que está no balanço.

E há pontos obscuros no documento. Fora a receita de negociações de atletas, o clube obteve R$ 133 milhões com direitos de televisão. Pelo contrato antigo com a Globo que valia até 2015, os dois times grandes mineiros ganhavam entre R$ 70 milhões e R$ 90 milhões por ano. Por isso, há uma desconfiança de que o Cruzeiro tenha incluído o adiantamento ou luvas do seu novo acordo com a emissora na prestação de contas.

A maioria dos contadores defende que as luvas ou adiantamento deveriam ser contabilizadas como receitas durante os anos do contrato (a partir de 2019), e não em 2015. Para o conselheiro cruzeirense Anísio Ciscotto, não há problema calcular luvas como renda no ano, mas está errado se for adiantamento. A diretoria do Cruzeiro se recusa a explicar qual procedimento adotou.

Para além desta questão, o alto faturamento não foi suficiente para o clube mineiro evitar o déficit e o aumento de sua dívida. Foram R$ 37 milhões de aumento do débito que atingiu R$ 290 milhões, talvez o menor débito entre os grandes brasileiros. O crescimento da dívida deve-se a pendências tributárias.

Ao entrar no Profut (programa do governo), o clube teve um aumento de sua dívida em impostos: saltou de R$ 135 milhões para R$ 168 milhões. Isso é uma demonstração de que o clube ou deixou de pagar impostos em 2015 ou reconheceu débitos que não existiam. Afinal, a maioria dos times que aderiu ao Profut teve redução do débito tributário.

PS O leitor encontrará boas análise das contas do Cruzeiro nos sites www.balancodabola.blogspot.com.br e www.anisiociscotto.blogspot.com.br. Lamenta-se a falta de transparência do clube ao lidar com suas contas.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.