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Rodrigo Mattos

Maracanã se deteriora com corte de verba da Odebrecht: gramado abandonado

rodrigomattos

10/05/2016 06h00

O Maracanã no domingo, durante a final do Carioca (Crédito: Paulo Fernandes/Vasco.com.br)

O Maracanã no domingo (8) durante a final do Carioca (Crédito: Paulo Fernandes/Vasco.com.br)

Os dois jogos das finais do Estadual do Rio indicaram a deterioração de partes do Maracanã. O motivo é o corte de 70% da verba de manutenção da Odebrecht, segundo apuração do blog. Agora o estádio está com o Comitê Organizador do Rio-2016, que ainda não conseguiu consertar os danos.

O governo do Estado confirmou ter sido informado pela empreiteira do corte de recursos. Já a Odebrecht negou ter reduzido o dinheiro para manter o estádio. A estimativa é que a manutenção do Maracanã custe R$ 50 milhões por ano.

Entre os problemas encontrados na final entre Vasco e Botafogo estavam: a manutenção do gramado, defeitos no sistema eletrônico que incluíram um telão quebrado (já consertado), o sumiço dos bancos de reservas, danos em portas e vidros de camarotes, e em ar-condicionados. Por isso, a Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio Janeiro) teve de gastar mais: o custo operacional de cada final ultrapassou R$ 500 mil.

Líder do Consórcio, a Odebrecht vinha tendo seguidos prejuízos no estádio, fato que se repetiu em 2015. Por isso, já decidiu que deixará sua gestão e assim demitiu praticamente a equipe inteira no final do ano passado: ficaram apenas oito funcionários. Foi contratada para alguns eventos a empresa Binário, formada por ex-empregados da construtora que participavam da gestão do estádio.

Lance de Vasco x Botafogo na final do Carioca (Crédito: Satiro Sodré/SSPress/Botafogo)

Lance de Vasco x Botafogo na final do Carioca (Crédito: Satiro Sodré/SSPress/Botafogo)

Só que o volume de dinheiro investido foi cortado em relação ao necessário. Por exemplo, não se pagou mais a empresa que cuidava do gramado no início de 2016. Por isso, o estado péssimo na primeira final, que melhorou no segundo jogo após cuidados feitos pela Ferj. Houve problemas no ar-condicionado da Globo e em um telão que precisaria de uma peça para funcionar. Foi consertado para o segundo jogo.

Outra questão é a cobertura do estádio que tinha partes queimadas desde a Copa-2014. A Fifa pagou os danos, mas a Odebrecht só deve repará-la depois da Olimpíada.

As avarias causadas pelo show do Coldplay também estavam aparentes. Portas e vidros estavam quebrados, embora a Odebrecht pudesse cobrar o conserto dos itens dos organizadores. Até os bancos de reservas, que eram chumbados no campo, tinham sumido do gramado. Organizadores da final tiveram que encontrá-los em um setor administrativo do Maracanã e os recolocaram no lugar.

"No início de março, a Concessionária Maracanã concluiu o programa de desmobilização do seu quadro de integrantes a fim de se adaptar ao período de uso exclusivo dos Jogos. A redução do seu quadro permanente de funcionários não atingiu os serviços essenciais e obrigatórios previstos no Contrato de Concessão, como limpeza, vigilância e manutenção, que foram cumpridos com a utilização de mão de obra terceirizada até 1º de março", defendeu a Odebrecht.

Já o governo do Estado do Rio confirmou ter sido informado pela empreiteira do corte do verba, mas disse que trabalha para o conserto dos danos.  "Todas as avarias em portas e vidros, provenientes do show do Coldplay, foram detectadas e serão reparadas. O telão encontra-se em perfeito estado, inclusive foi utilizado durante o último jogo no estádio. Até o momento, o gramado vinha recebendo manutenção básica, já que não havia previsão de jogo antes da retirada deste", contou o governo, que fez uma vistoria antes de repassar o estádio.

O Comitê Rio-2016 informou que desconhecia os problemas e disse que o Maracanã não estava em condições precárias quando recebido. O governo do Estado ressaltou que, em caso de novos danos ao estádio durante o período olímpico, o comitê terá de consertá-los.

Após a publicação da matéria, a Odebrecht enviou uma nota de esclarecimento que segue abaixo. O blog mantém todas as informações publicadas.

"-Diferentemente do que afirma o registro, a redução do quadro permanente de funcionários da Concessionária não atingiu os serviços essenciais e obrigatórios previstos no Contrato de Concessão, como limpeza, vigilância e manutenção, que foram cumpridos com a utilização de mão de obra terceirizada até 1º de março.

-O Comitê Rio 2016 assumiu o controle administrativo, operacional e comercial do Maracanã e ginásio Maracanãzinho, desde o dia 1º de março, para preparação e realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.

-Ao passar o controle do Maracanã para o Comitê Rio 2016, foi realizada uma vistoria cautelar, protocolada junto à Casa Civil do Governo do Estado, atestando as condições do estádio.

-Durante o período de 3 a 13 de abril, o estádio ficou sob a responsabilidade da empresa T4F para organização e realização do show do Coldplay. As vistorias de handover e handbackforam realizadas nos dias 30 e 31 de março, e 1º e 2 de abril, respectivamente. As duas vistorias que comprovam as condições de entrega do estádio após o show foram protocoladas junto à Casa Civil e ao Rio 2016.

– A concessionária exigiu a contratação da empresa Greanleaf pela produtora T4F para manutenção pré e pós show. Um relatório foi feito pelo Rio 2016, atestando que todos cuidados foram tomados e que não houve danos, apenas marcas causadas pela cobertura de proteção, que normalmente somem na manutenção pós-show. Tal relatório faz parte da vistoria protocolada junto à Casa Civil e ao Rio 2016.

–  A concessionária insistiu para que a manutenção fosse realizada, mesmo com os planos do Rio 2016 de remover totalmente o gramado, visando à preparação da cerimônia de abertura dos Jogos.

–  Os bancos de reservas são fixados, mas podem ser removidos, como aconteceu durante a Copa do Mundo de 2014, quando foram substituídos por outro modelo pelo comitê organizador. Em reunião conjunta entre Concessionária, Rio 2016 e T4F, a produtora solicitou a retirada dos bancos, o que foi prontamente autorizada pelo representante do Rio 2016, sob alegação de que os mesmos seriam retirados para a cerimônia de abertura do Jogos. Após o show, a decisão de não recolocar os bancos foi da própria Rio 2016, assim como a determinação do local onde deveriam ser armazenados.

– Não há registro de danos em portas e vidros de camarotes após o show do Coldplay, como citado na matéria. Foram registradas pequenas avarias (acionadores de descarga, torneiras, móvel, assento sanitário), que já foram reparadas e cobradas da produtora responsável, como previsto em contrato.

– O estádio foi usado em sua totalidade para o show do Coldplay e nenhum problema foi registrado com o sistema de ar condicionado durante o evento, o último realizado antes das finais do Campeonato Carioca."

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.