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Rodrigo Mattos

Como a CBF explica o Brasil do PMDB

rodrigomattos

28/05/2016 06h00

No dia 27 de maio de 2015, o ex-presidente da CBF José Maria Marin foi preso na Suíça acusado de levar propinas em contratos de futebol. No final do ano, seu sucessor Marco Polo Del Nero foi denunciado pelos mesmos crimes. Entre indas e vindas, manteve-se na presidência da entidade até agora, um ano e um dia depois.

É o único dos cartolas envolvidos no chamado "caso Fifa" que continua no poder. E como se sustenta? Del Nero vive em uma brecha jurídica que permite que não precise responder às acusações que sofre no Departamento de Justiça dos EUA. Se não viajar ao exterior, nada lhe acontecerá por falta de acordo de extradição entre Brasil e EUA.

Há a possibilidade de uma colaboração entre as suas Justiças, mas isso caminha a passos lentíssimos desde o ano passado. Em paralelo, investigações contra Del Nero na CPI do Futebol foram quase enterradas, e não há outras feitas pela Polícia Federal.

Quem derrubou as apurações sobre o cartola foi o senador Romero Jucá (PMDB-RR), o mesmo que foi pego tramando para barrar a operação Lava-Jato em um grampo recente. Há outro ponto de conexão entre a CBF e esse PMDB no assessor Vandenbergue Machado, que serve a amboscomo mostrou Juca Kfouri. Machado aparece em um grampo de Renan Calheiros, presidente do Senado, e que contribuiu para a CPI do Futebol parar.

Não é à toa que a confederação tem tão boa relação com membros do atual governo. Os homens do PMDB, como Del Nero, parecem imunes à enxurrada de denúncias que sofreram em suas carreiras.

Sim, Jucá caiu do Ministério do Planejamento por causa do grampo. Mas já caira antes de ministério no governo Lula por transações suspeitas com uma tv em Roraima. Assim como Renan Calheiros já saiu e voltou no Senado por outros negócios em Alagoas. E José Sarney se complicou quando presidente do Senado. Mas estão todos aí, ainda senadores, ainda no poder.

E ressalte-se que, quando a presidente Dilma Rousseff era a presidente em exercício, antes do início de seu impeachment, já estavam todos eles no governo ao seu lado. Afinal, era o PMDB o maior aliado do PT, companheiro de chapa antes de iniciarem essa guerra entre si.

Os políticos do PMDB se mantêm ativos apesar de denúncias justamente por brechas jurídicas, assim como ocorre com Del Nero. O foro privilegiado e a regra que impõe a necessidade dos pares os botarem para fora são exemplos. Só há exceção em casos extremos, como a decisão do STF de retirar Eduardo Cunha.

Tanto que rupturas como impeachment ou a prisão de Marin não são suficientes para derrubar o sistema, para obriga-lo a uma reforma. Às vezes, servem até para fortalecer o status quo. Mesmo que a cúpula do PMDB venha a cair, há uma estrutura para regenera-lo como outros nomes. Assim como se Del Nero sair por uma agravamento de denúncias, haverá um corpo de federações estaduais para garantir que outro igual o substitua, como já foi feito com o Coronel Nunes, aliás.

Certa vez o ex-técnico da seleção Carlos Alberto Parreira disse que "a CBF era o Brasil que deu certo". Certa ou errada, a confederação é um retrato do país.

PS O título deste post é inspirado no excelente livro "Como o futebol explica o mundo", de Franklin Foer, que conta histórias da bola e sua relação com a realidade de cada país. Não por acaso o capítulo sobre o Brasil retrata o presidente do Vasco, Eurico Miranda.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.