Novo técnico olímpico é bem diferente de Dunga. Entenda por que
A CBF mudou bastante o plano olímpico ao efetivar o técnico sub-20, Rogério Micale, no lugar do demitido Dunga. Isso porque os dois têm perfis e opiniões bem diferentes. Ressalte-se, no entanto, que os dois treinadores vinham trabalhado em parceria na equipe que atuaria nos Jogos, e houve troca de ideias entre eles. O time de Dunga, aliás, vinha se aproximando do estilo de seu sucessor no final do trabalho.
Para ajudar o leitor a entender essa mudança, o blog traça um perfil de Micale sobre futebol, e compara com o que defendia Dunga. Não foi possível falar com o treinador da seleção olímpica porque a CBF vetou entrevistas dele neste momento. Por isso, a base é uma entrevista de 2015 e contatos posteriores do UOL Esporte com o técnico, assim como atitudes e falas de Dunga durante os últimos dois anos.
Para começar, em campanha em jogos oficiais, Rogério Micale leva uma pequena vantagem sobre Dunga. Dirigiu o time em 10 jogos oficiais, sendo o Mundial sub-20 e o Pan-2015 de Toronto. Acumulou 60% dos pontos possíveis. À frente do time principal, Dunga teve 51% de aproveitamento, considerando eliminatórias e duas Copas Américas.
Mas a distância entre estilos e pensamentos é maior. Veja ponto a ponto.
Evolução tática do futebol
Desde que assumiu, Dunga defendeu que não havia grandes revoluções no mundo do futebol. "O futebol não mudou. O que decide é o talento", disse, logo depois de assumir. Apesar disso, o treinador procurou, sim, inspiração em alguns times mais modernos para montar a seleção, incluindo a Alemanha e o Corinthians.
Micale entende, sim, que houve bastante evolução tática no futebol. Tanto que passou a treinar seus times com estilo europeu desde que assumiu. Para isso, ele tenta mudar a cabeça dos jogadores que atuam no Brasil. Um exemplo: zagueiros têm dificuldade de atuar na linha com quatro avançado por falta de velocidade para se recuperar. Seus treinamentos são conhecidos por serem surpreendentes, e fora do habitual visto no país.
Brasil ultrapassado?
Dunga não concorda com a ideia de que o futebol brasileiro esteja atrasado. É o que revelam algumas de suas frases: "Não é que o Brasil esteja defasado"; "A partir da Copa, a gente não pode colocar como terra arrasada"; e "De tanto ouvirem, acham que a gente está na idade da pedra" (esta última sobre a proposta de uma empresa belga de parceria com a CBF, rejeitada pelo treinador).
O novo técnico da seleção olímpica tem defendido, sim, que o futebol brasileiro está estagnado no passado. "Não estamos tentando aprender com o nosso passado. Estamos fincados no nosso passado porque ganhamos no nosso passado. E não olhamos para frente", disse ele, em 2015.
Comportamento dos jogadores
Dunga dá bastante importância ao comportamento dos jogadores: excluiu Thiago Silva da seleção por entender que ele era afetado por problemas emocionais. "Os jogadores que escolho são técnica, atitude, mas precisa ter valores", afirmou em entrevista ao UOL. Com Gilmar Rinaldi, ele instituiu uma cartilha na seleção que restringia uso de bonés, brincos e aparelhos eletrônicos em excesso.
Micale tem preocupação com maturidade e responsabilidade dos jogadores com que trabalha. Entende que não há por que proibir determinados adereços como ocorreu com seu antecessor na sub-20, Alexandre Gallo. Mas já explicou aos seus comandados que a atitude de cada um terá reflexo na sua imagem na mídia, e que podem ser cobrados por isso.
Tática de jogo
Ressalte-se que Dunga foi alterando sua forma de jogar enquanto esteve no comando da seleção. Começou com um modelo mais tradicional em que o Brasil esperava o adversário para contra-atacar como na campanha de 2010. Depois, evoluiu para um estilo similar ao do Corinthians, com 4-1-4-1. Ao final, neste formato, vinha privilegiando o toque de bola com participação até do goleiro. Ou seja, vinha se modernizando e se aproximou do estilo da seleção sub-20.
Desde que assumiu a sub-20, Micale botou o time para arriscar e jogar bem compacto, com uma distância de no máximo 35 metros entre o primeiro e o último homem. Há marcação pressão e a zaga joga adiantada. Isso exige bastante participação do goleiro no jogo. Seu esquema não é igual ao último da seleção: prefere jogar com quatro jogadores avançados para dar espaço para zagueiros e volantes jogarem. Seu time tem média de 2,45 gols até agora, incluindo amistosos e jogos oficiais. Mas sofreu quase um gol por jogo.
Colaborou Dassler Marques
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