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Rodrigo Mattos

Tite não mudou de opinião sobre Del Nero, mas topou ser seu escudo

rodrigomattos

20/06/2016 19h00

Quando questionado três vezes sobre seu pedido de renúncia de Marco Polo Del Nero na CBF, em 2015, o novo técnico da seleção, Tite, não deu uma resposta objetiva se mantinha as críticas à entidade. É preciso ler nas entrelinhas para perceber que ele não mudou de opinião do que assinara. Para pessoas próximas ao técnico, o discurso deixa claro que ele não alterou sua posição, mas, obviamente, não vai mais externa-la ao se tornar subordinado ao cartola.

"A maneira que tenho de contribuir é essa: manter a mesma opinião, mas evoluir a seleção brasileira. Democratização, transparência, modernização, adjetivos que permanecem como conceito em todas as áreas, seja minha área, política. É aquilo que eu penso", disse, em uma das respostas sobre o manifesto.

A questão é que, ao assumir a seleção, o ex-treinador corintiano tornou-se um escudo para o Del Nero do qual desaprova a gestão. Basta ver as atitudes do cartola durante o dia da apresentação de Tite para perceber esse cenário.

O presidente da CBF levou um séquito de sua diretoria para seguir todos os passos do novo treinador. Quando ele entrou no museu da confederação, havia dez cartolas atrás dele.

Depois disso, no auditório, Del Nero apresentou o novo treinador, lhe entregou uma camisa com o nome de sua mãe, e o abraçou. E sentou calado na primeira fila para ouvir sua entrevista. Foi Tite que teve que responder questões espinhosas. Já Del Nero não é submetido a escrutínio de jornalistas há tanto tempo que é difícil lembrar.

A quem chama Tite de incoerente, o técnico diz que foi atrás da construção de sua carreira, de seu sonho de dirigir a seleção. E, neste campo, poderá ter autonomia e contribuir para o time brasileiro.

De saldo deste arranjo, Tite terá de trabalhar para um cartola com quem não concorda em relação aos rumos do futebol brasileiro, Del Nero aceitou contratar um treinador que o criticou abertamente. Um ganha em troca o seu sonho de recuperar uma seleção brasileira, o outro ganha um alívio da opinião pública.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.