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Rodrigo Mattos

O mundo perdoará Messi. E os argentinos?

rodrigomattos

27/06/2016 00h22

Quando a Argentina perdeu a decisão para o Chile, na Copa América de 2015, Messi foi criticado fortemente em seu país: houve editorial para dizer que se omitia em finais. Na sua chance de revanche, na mesma Copa América em 2016, ele enfrentou às vezes sozinho a defesa rival, teve boa atuação, mas perdeu um pênalti decisivo para o vice-campeonato. O que dirão os argentinos?

Porque para o mundo é quase obrigatório perdoar um craque como Messi. Por tudo que ele fez para o futebol nesta última década, os dribles, os passes impossíveis, as conclusões precisas. Um pênalti não apaga esse encantamento.

Isso torna ainda mais incompreensível o erro do camisa 10 argentino. Como pode alguém que quase nunca falha em arremates desperdiçar um chute com a bola parada mandando o na lua? Há precedentes, claro, outros craques já perderam pênaltis decisivos, até em Copa do Mundo, Baggio, Zico.

Mas as circunstâncias no caso de Messi têm requintes de crueldade. O jejum argentino de títulos que já tem 23 anos, a ausência de taças do craque com a camisa de seu país, as três derrotas seguidas em finais.

E, de novo, o seu esforço solitário durante os 90 minutos diante de um Chile mais coletivo. No primeiro tempo, diga-se, ambos os times foram atrapalhados pelo estilo espalhafatoso do árbitro brasileiro Heber Roberto Lopes. Houve duas expulsões, ambas equivocadas na minha opinião. E, pior, houve falhas em indicações de marcações, em inversão de faltas e no controle disciplinar do jogo.

Com dez de cada lado, brilhou a figura de Vidal no Chile. Supriu a ausência de Diaz e correu por 120min de área à área, com um pulmão inacreditável. Acertou quase tudo e foi a maior figura em campo. Por conta dele, e de Araguiz, seu time dominou o meio de campo a maior parte do segundo tempo.

Do outro lado, Messi conseguia superar um, dois, três rivais, mas sem seus companheiros por perto não conseguia evoluir. Ainda deu um arremate a gol e botou Aguero na frente de Bravo para perder desperdiçar a chance de vitória, assim como fizera Higuaín no início da partida.

Ao final, o placar igual refletia uma partida equilibrada, e de poucas conclusões a gol. Mais luta, mais tática, mais jogo de meio de campo. A prorrogação foi mais empolgante, mas não o suficiente para mudar o placar. E aí viriam os pênaltis e a sina.

A cobrança de Messi foi à la Baggio, por cima da meta, longe. Sua face, antes mesmo do final da disputa, era de desolação, quase desespero. E agora, como os argentinos vão tratar o seu ídolo?

PS Após o jogo, Messi indicou que não deve jogar mais pela Argentina. Ele parece não ter se perdoado pelo erro. Caso isso se confirme, são punidos a Argentina e o futebol. Não dá para imaginar uma Copa do Mundo sem ele.

PS 2 Após a decisão de Messi, o diário Ole lançou uma campanha para que Messi fique no time argentino. A campanha tem forte adesão em redes sociais, o que mostra que boa parte dos argentinos, sim, o perdoam. Detalhe: o olé é o mesmo que fez editorial para detonar o craque em 2015.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.