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Rodrigo Mattos

Como o envolvimento da WTorre na Lava-Jato pode afetar o Allianz Parque

rodrigomattos

06/07/2016 10h35

A operação Lava-Jato incluiu em sua investigação a construtora WTorre e o seu dono Walter Torre Junior, administradores do Allianz Parque, por suspeita de corrupção em concorrência da Petrobras.  Não há relação do caso com o estádio palmeirense. Mas o envolvimento da empreiteira pode ter impacto econômico na arena alviverde como visto em outras situações. Vamos explicar como.

Primeiro é preciso que se diga que a WTorre e Walter Torre Jr. negam as acusações apontadas na Lava-Jato – receber propina de R$ 18 milhões para desistir de concorrência – e dizem colaborar com a Justiça. E agora tomam medidas para tentar minimizar o impacto da imagem na empresa.

"A empresa não pagou nem recebeu nenhuma soma a agente privado ou público. Claro que qualquer suspeição, num momento delicado como este, tem impacto sobre a imagem da empresa", explicou a assessoria da Torre. "E, por entendermos a questão dessa forma, contatamos nossos principais parceiros, com quem temos relações sólidas e de confiança, que não se resume à área de entretenimento. E sentimos muita tranquilidade por parte de cada um."

A empreiteira tenta minimizar os riscos econômicos. E quais seriam eles?  "Não tem impedimento para um empresa investigada assinar novos contratos ou receber empréstimo. Mas o sistema de compliance (regras de gestão) dificulta que os bancos deem empréstimos para quem tem problemas judiciais", contou o advogado Fernando Fernandes, que já atuou em casos da Lava-Jato. "Os bancos ficam com medo de a empresa não ter como pagar. Muitas empresas entram em recuperação judicial por falta de liquidez."

Para o Allianz Parque, se a WTorre ficar sem crédito e liquidez, isso representará um grande impacto na parceria com o Palmeiras e na gestão da instalação. Pelo acordo feito, a construtora fez o estádio em troca da concessão do uso de superfície local e do Allianz Parque por 30 anos – o custo total foi de R$ 675 milhões. A gestão da arena se dá por meio da Real Arenas Participações Ltda, controlada pela construtora.

Para pagar pela obra, foi preciso pegar um financiamento no Banco do Brasil. No final do ano de 2014, a dívida com o banco somava R$ 435 milhões, e seria quitada em 10 anos. A construtora não informou o valor atual.

As garantias para o empréstimo são as rendas do estádio – fora a bilheteria que é palmeirense – e o uso do terreno da arena, segundo o balanço da Real Arenas. Esses bens foram dados em alienação fiduciária para o Banco do Brasil. Se a construtora passar por problemas financeiros, o banco poderia executar e tomar esses bens.

Segundo o advogado Guilherme Marcondes Machado, especialista em recuperação judicial, a alienação fiduciária facilita a tomada da garantia pelo credor em caso de inadimplência. "Nestes casos, o banco pode tomar imediatamente o bem", explicou o advogado. "A alienação é uma transferência de propriedade para o devedor. Se não há pagamentos, a propriedade é do banco."

A WTorre se recusou a comentar os termos das garantias do estádio alegando "razões de sigilo". "Mas, com toda a tranquilidade, podemos afirmar que a arena vem tendo uma performance excepcional sob diferentes aspectos: comercial, financeiro e de conteúdo, entre outros", disse a assessoria da WTorre. E afirmou que o plano de negócios da arena foi ultrapassado sem dar números.

E como o Palmeiras ficaria afetado nesta questão? O clube, obviamente, não teria efeito direto nas suas finanças que são independentes do estádio, nem deixaria de jogar no local. Mas a situação jurídica do Allianz Parque poderia se complicar se os direitos do estádio fossem transferidos a terceiros.

Um exemplo é o caso do Grêmio com a OAS em sua arena. O clube tenta comprar de volta a Arena Grêmio da empreiteira que entrou em recuperação judicial justamente por causa da Lava-Jato. Mas o clube tem de negociar com a massa de credores da empreiteira, o que torna a solução difícil. Enquanto isso, enfrenta prejuízo mesmo quando o estádio enche.

"A atividade inteira da empresa acaba afetada. Em uma recuperação judicial, já houve 13 mil credores. São muitos interesses para atender para fechar uma operação de venda", completou Machado. Ele explica que o bem só pode ser utilizado se o credor – no caso da WTorre, o BB – aceitar.

A assessoria da WTorre insiste que sua situação é muito diferente de casos como a OAS. "Nenhum diretor da companhia nem o fundador da empresa foram indiciados, e estamos seguros de que não há elementos nem delito para que isso ocorra. Você há de concordar que essa situação é muito diferente das situações que você mesmo cita (OAS e Odebrecht), onde os dirigentes das empresas estão presos, com impacto não apenas nos negócios dos estádios, mas dos respectivos grupos empresariais", afirmou a construtora.

Mas o blog apurou que esse não é o único negócio da WTorre com a Petrobras sob suspeita. E outra consequência financeira seria a Justiça determinar que a empresa pague multas milionárias em caso de culpa com o objetivo de ressarcir as vítimas.

Questionada pelo blog, a assessoria do Palmeiras não quis comentar o caso. A diretoria do clube tem uma disputa com a WTorre sobre questões de gestão do estádio em uma corte de arbitragem.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.