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Rodrigo Mattos

Ronaldo, não se faz uma reputação com comissão

rodrigomattos

14/07/2016 12h00

É seguro dizer que até o final de 2011 o ex-jogador Ronaldo era uma figura querida do público brasileiro. Mesmo episódios polêmicos (envolvimento com travestis) ou tristes (contusões) eram superados por redenções que aumentavam sua imagem de herói, de vencedor. Até que ele decidiu se envolver com política e negócios do esporte, tudo-junto-ao-mesmo-tempo-agora.

Naquele final de 2011, Ronaldo aceitou assumir um cargo no COL (Comitê Organizador Local) da Copa-2014 talvez achando que se tornaria um novo Platini (ocupou posição similar na França-1998). As circunstâncias iniciais, no entanto, não eram lá muito favoráveis visto que teve de se aliar a um enfraquecido Ricardo Teixeira, presidente da CBF envolvido em diversas denúncias.

E dali em diante só piorou. Depois que Teixeira caiu, Ronaldo teve de servir de escudo para José Maria Marin. Tentou descolar sua imagem dele com alfinetadas no cartola pela imprensa.

Só que, embora sagaz nos negócios, se mostrou inábil com as palavras. Basta lembrar da famosa frase: "Não se fazem Copas com hospitais". Na época, tentava justificar o dinheiro público em estádios. Acabou como resumo do que a Copa-2014 se tornou: uma festa sem nenhum benefício visível para a maioria da população.

A questão é que houve, sim, quem tenha se beneficiado, pessoas como Ronaldo. Ele abriu mão de salário no COL em favor de seus ganhos com sua 9ine. Garantia que não haveria conflito de interesses entre seus negócios e a função pública.

Logo depois, em 2012, uma empresa chamada Marinete – que tinha contratado a 9ine como agência publicitária – levou um contrato de fornecimento de assentos na Arena Fonte Nova. Coisa de R$ 8 milhões. O UOL Esporte noticiou e Ronaldo, por meio da 9ine, tratou de desmentir participação no negócio ou qualquer ganho. Alegou que sua empresa era apenas a agência de publicidade da Marfinite.

Agora, quatro anos depois, o repórter Pedro Lopes, do UOL, mostra que essa versão não era verdadeira. Havia um contrato da Marfinite com a 9ine que previa pagamento de comissão de 10%, isto é, em torno de R$ 800 mil pelo negócio. Há até e.mail que comprova que Ronaldo atua na cobrança dos valores da Marfinite.

Confrontado com a contradição, com os documentos como prova, o ex-jogador tenta sair pela tangente dizendo que nunca participou de decisões sobre contratos relacionados a Copa porque eram responsabilidades de comitês estaduais. Ora, esses comitês estavam submetidos a exigências técnicas justamente do comitê organizador, onde Ronaldo ocupava alto cargo. Em alguns casos, o COL mudou todo um projeto de estádio.

Como poderemos acreditar que o ex-jogador não usou sua influência para obter contratos para parceiros se a primeira versão do que disse se mostrou falsa? Aliás, como poderemos acreditar a partir de agora em qualquer coisa do que ele diga como comentarista, garoto-propaganda ou homem-público? Ronaldo tinha uma reputação, mas preferiu a comissão.

PS: Esse nem foi o único negócio de parceira de Ronaldo com a Copa como podem ver aqui.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.