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Rodrigo Mattos

Repressão a protestos em sedes olímpicas é mais severa do que na Copa

rodrigomattos

08/08/2016 06h00

A Fifa e o COI (Comitê Olímpico Internacional) têm regras bem parecidas quando se trata de protestos políticos: não são tolerados em suas competições, seja na arquibancada, seja no campo. Mas a repressão a manifestações dentro das sedes tem sido muito mais severa nos Jogos do que na Copa. E isso ocorre justamente quando o país está dividido politicamente na disputa pela presidência entre Michel Temer e  Dilma Rousseff.

Primeiro, ressalte-se que a proibição a cartazes é legal. Foi determinada em maio de 2016 pela lei olímpica, que prevê que torcedores não podem usar bandeiras que não seja para fins amigáveis. Não trata de gritos de ordem, por exemplo, e ressalva o direito de livre manifestação. São as regras olímpicas que proíbem qualquer protesto político, o que inclui os gritos. A Justiça já considerou essa regra legal.

O cenário era similar com a Fifa, que também orientou que não deveria haver protestos, e colocou essa instrução em ingressos. Mas nem sempre isso foi seguido à risca.

Dou aqui um exemplo que ocorreu no Maracanã. Uma faixa grande foi exibida como protesto contra a própria Copa-2014 em jogo do Mundial. Houve repressão e pedido para que a faixa fosse abaixada, mas ela não foi recolhida e ninguém foi expulso da arena. No final, os manifestantes continuaram a mostrar a faixa e ninguém fez nada.

Outros cartazes, naquela época, também foram retirados dos manifestantes. Em geral, o policial ou voluntário chegava, pedia para abaixar ou retirava e ia embora. Mas houve quem exibisse tranquilamente camisas contra a Copa ou até a Fifa sem ser incomodado.

No caso olímpico, cartazes de tamanho pequeno com "Fora Temer" têm sido alvo dos policiais. No Sambódromo, um torcedor foi retirado com truculência pela Força Nacional. Na Arena Olímpica, na competição de ginástica, torcedores também acusaram os policias de serem duros na repressão e de ameaçarem retirá-los. Eles não foram expulsos, e os policiais alegam terem sido educados.

Uma torcedora me relatou que um voluntário a perseguiu até o banheiro porque tinha exibido uma faixa "Fora Temer".  E fez ameaças de que seu amigo tinha sido preso.

A regra do COI não é nova e já causou polêmicas, como a punição dos velocistas no México-1968, que perderam suas medalhas por um protesto no estilo "Panteras Negras". O processo é discutível por sua interferência no direito democrático da liberdade de expressão. Do lado do COI, é um jeito de se proteger para não envolver os Jogos em discussões que não são suas, como se a entidade fosse isolada do mundo (claro que não é).

Claro que grandes manifestações poderiam interferir nas competições, mas não me parece que pequenos cartazes estejam causando distúrbio nos ambientes. Que se peça para retirá-los, vá la. Mas não dá para achar normal uma atitude intimidadora da Força Nacional ou ameaças de expulsão.

Isso gera, inclusive, uma desconfiança sobre quem dá orientações aos policiais para agir assim, visto que a Força Nacional é vinculada ao Ministério da Justiça, comandado por Alexandre Moraes, aliado de Temer e responsável por comandar a repressora polícia paulista. Que os policiais possam ter mais bom senso na aplicação da lei, porque não estão lidando com criminosos, apenas com pessoas que discordam do governo atual.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.