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Rodrigo Mattos

Homenagem a Havelange na Olimpíada é como se Brasil honrasse Eduardo Cunha

rodrigomattos

16/08/2016 14h40

A homenagem que o Comitê Rio-2016 faz ao ex-presidente da Fifa João Havelange com bandeira brasileira a meio pau por sua morte nesta terça-feira envergonha o movimento olímpico e os seus supostos altos valores. Seu legado como dirigente é de politicagem com o futebol e apropriação de recursos do esporte por cartolas. Seria algo parecido com se o governo brasileiro, agora, decidisse dar uma honraria ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, envolvido em escândalos sem fim.

Para chegar a esta constatação, basta se analisar os fatos. Havelange ganhou a presidência Fifa em 1974 alçado ao cargo por promessas de benesses a eleitores e por um apoio do então presidente da Adidas Horst Dassler, principal patrocinadora da entidade. Ao assumir, montou uma máquina poderosa de fazer dinheiro que beneficiou principalmente cartolas e a própria corporação.

Na década de 1990, quando o dinheiro realmente entrou forte no futebol, montou-se um esquema corrupto com a ISL, gigante de marketing esportivo. A empresa comprava todos os direitos da Copa, lucrava milhões e repassava parte para os cartolas. A falência trouxe à tona os segredos.

Um processo judicial na Suíça comprovou que Havelange levou 1,5 milhão de francos suíços no esquema, fora os tantos outros milhões recebidos pelo seu então genro Ricardo Teixeira. O ex-presidente da Fifa teve até de se retirar do COI (Comitê Olímpico Internacional) para não ser expulso. O COI não quis cumprir honras com bandeira olímpica a meio pau.

E essa prática de subornos disseminou-se por todo mundo do futebol como se comprovou no caso Fifa revelado pelo Departamento de Justiça dos EUA já em 2015. Isso está tão entranhado no mundo do futebol que Joseph Blatter considerava normal levar US$ 12 milhões de bônus em uma Copa, Marco Polo Del Nero nem se abala de dirigir a CBF mesmo acusado de corrupção nos EUA.

Não é só. Havelange fez sua carreira usando a gestão da Fifa para interesses políticos. Expandiu a Copa para conseguir mais votos (sem analisar o aspecto técnico), entregou um Mundial para uma ditadura sanguinária como a argentina e sempre deixou os interesses de jogadores e atletas no último lugar. A falência do futebol brasileiro é um legado deixado por suas práticas.

Dito isso, a homenagem ao cartola ocorre em um momento em que o Brasil tenta combater a corrupção e mudar como país. É ofensivo que um cartola reconhecidamente corrupto seja honrado nos Jogos do Rio-2016, evento simbólico para o país. A mensagem que o Comitê Rio-2016 passa para o povo brasileiro é: pode tomar o dinheiro dos outros que um dia você acabará homenageado nos Jogos Olímpicos.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.