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Rodrigo Mattos

PM acerta ao identificar e prender brigões corintianos no Maracanã

rodrigomattos

24/10/2016 10h48

Elogiar a Polícia Militar do Rio é uma temeridade pelo seu histórico de truculência. E aqui nunca serão defendidas teses estapafúrdias do tipo "bandido bom é bandido morto" ou "bateu tem que apanhar". Dito isso, salvo excessos, a PM agiu certo ao reter a torcida corintiana para identificar os que participaram da briga no Maracanã no clássico com o Flamengo.

Vamos ao relato. A confusão começa com uma correria dentro da torcida corintiana que rapidamente se transforma em uma tentativa de invadir em massa o lado dos rubro-negros. Até ali, não há informação ou imagem que mostre nenhuma provocação de flamenguistas ou atitude da PM que levasse aquilo.

A situação esteve muito perto de se tornar uma tragédia. A PM cometeu uma falha de segurança, essa sim grave, e botou poucos homens entre as duas torcidas. Assim, as organizadas corintianas levaram vantagem e espancaram um policial e bateram em outros, quebraram a grade e estiveram perto de ultrapassar a barreira. Do outro lado, alguns rubro-negros, em menor número, provocavam e arremessavam copos.

O clima na arquibancada foi de absoluto terror, com crianças dos dois lados com medo. Se houvesse a invasão, a pancadaria iria se alastrar pois havia uma organizada do Flamengo do outro lado – a maior parte dela não mexeu durante a confusão. A PM conseguiu conter os corintianos. Naquele momento, não havia nenhum clima para identificar culpados pela hostilidade entre os dois lados. A briga recomeçaria.

Ao final do jogo, a polícia retém os torcedores e faz uma triagem para achar os culpados. Ora, todos cobramos que os brigões sejam punidos e quando a polícia tenta identificá-los seu trabalho é classificado de opressor? Houve retidos inocentes? Sim, mas esses foram liberados se não identificados na briga. Se houve violência da PM, está errado, mas até agora os relatos são de que não bateram em ninguém. A ver nos próximos dias.

Imagine que houvesse um crime – sim, foi isso que houve no Maracanã – em uma boate. A PM cercaria o local e revistaria todo mundo à procura do culpado. O que ocorreu no estádio foi isso em larga escala. E o número de brigões é bem grande para justificar uma revista geral neste caso. Tiro a camisa toda vez que entro em estádio e nunca me senti humilhado por isso.

Chegamos enfim a surreal nota da diretoria do Corinthians lamentando a "agressão a torcedores". Em um trecho ela diz: "A fim de capturar 40 torcedores que supostamente se envolveram em briga com policiais, a PM aprisionou 3 mil torcedores do Corinthians no Estádio do Maracanã (…)". Supostamente? As imagens são claras e mostram a violência das organizadas corintianas. Nenhuma condenação aos brigões: só conivência.

As mesmas organizadas corintianas que recebem a maior parte dos ingressos de visitantes do clube. Já estive em vários desses jogos e o clima é sempre tenso, prestes a explodir por qualquer fagulha. É essa política do clube de favorecer organizadas que causa esse ambiente.

Morei nove anos em SP e já fui a diversos jogos do Corinthians em casa. A maioria da torcida corintiana é fanática, bem humorada, divertida e pacífica. O clima dos jogos é, na maior parte das vezes, ótimo. Mas a imagem que a diretoria do Corinthians exporta para fora de sua torcida é de guerra. Exceções feitas aos corintianos que não são de briga e conseguem bilhetes para esses jogos fora.

Nenhum torcedor merece ser tratado de forma truculenta pela PM. Não é isso que se defende aqui. Agora, se queremos de fato uma solução para violência no estádio, a polícia tem, sim, o direito de tomar medidas para identificar deliquentes no estádio e levá-los presos. As comparações com Carandiru e similares são sem noção se pensarmos que até agora as agressões constatadas são das organizadas corintianas.

Ou os corintianos brigões achavam que tinham direito de espancar PMs, quebrar grades, botar o terror no Maracanã e depois entrar no ônibus e ir embora? E o direito do restante do estádio de assistir ao jogo em paz? Deve ser ignorado?

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.