Demissão expõe racha entre base e seleção profissional na CBF
A demissão do coordenador da base da seleção Erasmo Damiani expôs um racha que acontece entre o departamento de base e a diretoria da equipe principal, pelo menos desde a Olimpíada Rio-2016 até agora. É o que fica claro pelas declarações de Damiani ao blog. Ele afirmou que não teve as reivindicações atendidas pelo diretor de seleções, Edu Gaspar, e que entende que o dirigente teve influência decisiva em sua saída.
Damiani foi contratado quando Gilmar Rinaldi era o coordenador de seleções da CBF. Foi demitido nesta semana pelo presidente da confederação, Marco Polo Del Nero, após o fracasso da seleção sub-20 no Sul-Americano: ficou em quinto no hexagonal final e fora do Mundial. Há o risco de demissão do técnico Rogério Micale, campeão olímpico. Edu Gaspar ganhou poder na confederação.
"A justificativa que ele (Del Nero) apresentou foi o resultado que tinha que ter uma mudança. Na verdade, foi subjetivo (o argumento técnico) porque o presidente não tem conhecimento técnico. Alguém passou para ele a justificativa. Até isento o presidente. Não dá para discutir metodologia com ele que não é um técnico", analisou Damiani.
Questionado se os resultados justificavam a queda, o ex-coordenador discordou. "O time sub-20 foi vice-mundial, ficou em terceiro no Pan com time alternativo e ganhou a Olimpíada. Em quatro campeonatos, foi ao pódio em três. Foi mal agora no Sul-Americano. E têm as outras seleções, sub-17, sub-15", disse.
Perguntado se Edu Gaspar tinha relação com a sua saída, emendou: "Está muito claro. Não preciso nem falar." Segundo Damiani, só estavam esperando "o momento propício para fazer a mudança de interesse."
O UOL revelou que Alessandro, diretor do Corinthians ligado a Gaspar, é candidato ao cargo de Damini, e o treinador do sub-20 do time Osmar Loss ao de Micale.
Segundo o coordenador da base, após a chegada de Tite e Edu Gaspar, a divisão de base perdeu dois observadores. Havia a necessidade de repor e contratar um supervisor para estruturar a base que tinha começado a ser montada anteriormente. Isso foi avisado à diretoria de seleções.
"Tenho que levar a ele (Edu Gaspar) que nunca deu aval para contratar. Explicamos várias vezes o que precisava. Não podemos ficar insistindo com o superior. Falei uma vez, duas vezes, três vezes", informou.
Sobre a interação da comissão técnica principal com a base, durante a Olimpíada, Damiani minimizou a participação de Tite em ajuda ao treinador Rogério Micale na campanha do título.
"Não teve nenhuma (influência). Tite e o Edu iam almoçar com a gente nos dias dos jogos e depois iam assistir ao jogo do camarote lá de cima. Foram em três treinos, e depois um em Salvador. Não entendo por que fazem essa associação. Se perdessem ia ter essa associação?", comentou. Ressaltou que pode ter havido comunicações entre Micale e Tite que ele desconhece.
Damiani ainda lembrou que o esquema de Micale com 4-2-4, usado na seleção olímpica, era diferente do tradicional de Tite com 4-2-3-1. De fato, um lançava quatro homens à frente para pressionar o adversário, enquanto o outro faz uma linha de três apoiadores atrás do atacante principal.
A principal reclamação do ex-coordenador da seleção é por ter montado uma estrutura com banco de dados para base, e uma comissão técnica, e o trabalho não ter sido reconhecido. Segundo ele, a divisão de base do Brasil anteriormente não tinha nada.
O blog tentou contato com Edu Gaspar que informou que o assunto estava com a CBF. A assessoria da confederação disse que não iria comentar as declarações de Damiani.
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