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Rodrigo Mattos

Estaduais têm erros bizarros de árbitros, mas federações só pensam no poder

rodrigomattos

27/03/2017 04h00

Na semana em que as federações estaduais aumentaram seu poder, os Estaduais organizados por elas exibiram erros bizarros de arbitragem. As competições ainda tiveram desfalques importantes por jogadores estarem com as seleções e horário esdrúxulo para um clássico. Ou seja, a CBF e a federações fortaleceram um sistema que se mostra decadente.

No clássico carioca, disputado em Brasília, o árbitro Luis Antônio Silva Santos, o Índio, marcou um pênalti para o Vasco após suposta mão do lateral René. O problema é que a bola bateu claramente em parte de sua barriga. De frente para o lance, o meia Nenê disse ter visto pênalti e bateu para empatar.

Antes, o mesmo juiz protagonizou cena de cinema ao se desequilibrar após tomar uma barrigada de Luis Fabiano. É absurdo achar que um jogador pode encostar e tentar intimidar um árbitro e continuar em campo, ou seja, o vermelho foi correto. Mas a sua reação ao lance ao cair para trás pareceu exagerada. A anulação de um gol do Fla por impedimento, segundo o analista Salvio Espínola, da ESPN, foi correta já que Damião tentou disputar a bola.

No Morumbi, o árbitro Vinicius Furlan ignorou um entrada dura de Wellington Nem em Arana que deveria ter resultado em cartão vermelho. Quase no final do jogo, ele expulsou o mesmo jogador por supostamente atingir um rival sendo que seu braço não tem nenhuma ação violenta contra o corintiano. Houve ainda questionamento são-paulino sobre uma expulsão de Pablo que fez falta para amarelo e foi perdoado.

Foram atuações horrorosas dos dois árbitros nos clássicos, mas estão longe de ser exceção. Para lembrar os casos mais graves, o corintiano Gabriel foi expulso no clássico com o Palmeiras porque o juiz Thiago Peixoto o confundiu ele com Maycon. No Sul, um árbitro deu um pênalti contra o Inter após a bola bater no corpo do colorado Junio.

Esses são só os exemplos mais clamorosos de erros de arbitragem em competições que literalmente se arrastam neste primeiro semestre em uma maioria de jogos desinteressantes. No Rio, por exemplo, Flamengo e Fluminense, já classificados às semifinais, estão jogando só para cumprir tabela.

Quando há clássicos, além dos erros, ainda há desfalques já que os Estaduais continuam em datas Fifa. O Flamengo jogou sem Guerrero, Diego e Trauco, o Vasco sem Martín Silva. O São Paulo não tinha Cueva e Pratto, o Corinthians, Romero.

Pior, a Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) ainda marcou um clássico entre Fluminense e Botafogo na quinta-feira que começou enquanto ainda havia bola rolando na partida das eliminatórias entre Brasil e Uruguai. Sim, um Engenhão esvaziado tinha um jogo simultâneo, por alguns minutos, ao da seleção.

É neste cenário que a CBF e as federações articularam a manobra que lhes deu mais poder na eleição na entidade e tirou peso do votos dos clubes. Os dois fatos estão associados. Ao manter as federações poderosas, a confederação descarta qualquer mudança no calendário que dá 18 datas para os Estaduais e essas bizarrices vistas em 2017.

Ao mesmo tempo, a confederação posterga a implantação do árbitro eletrônico que poderia minimizar esses erros, alegando falta de dinheiro. Nada de profissionalização também, medida já largamente adotada na Europa. Limitam-se a afastar um árbitro atrás do outro, como já ocorreu com Índio, como quem enxuga gelo.

Ora, se a CBF e as federações não querem investir em arbitragem, por que não deixar que os clubes o façam organizando os próprios campeonatos? Porque desta forma iriam abrir mão de poder. Não, o objetivo é perpetuar um sistema que impõe jogos desinteressantes, falhas gritantes na organização dos campeonatos, tudo sob a mão firme de quem pouco se importa com isso.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.