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Rodrigo Mattos

Delações geram suspeitas sobre obras em 10 dos 12 estádios da Copa-2014

rodrigomattos

12/04/2017 15h28

Delações feitas por executivos de empreiteiras e políticos já levantaram suspeitas sobre as obras de 10 de 12 estádios da Copa do Mundo-2014. Há diversos tipos e níveis de acusações: cartel, pagamento de propina para obter obra, irregularidades no financiamento, entre outros. Essas denúncias ocorreram no âmbito da operação Lava-Jato, ou em paralelo a esta.

Entre os estádios citados nas delações estão: Arena Corinthians, Castelão, Arena Pernambuco, Arena das Dunas, Arena Amazônia, Mané Garrincha, Maracanã, Arena Pantanal, Mineirão, Fonte Nova. Ressalte-se que, no Mineirão, o suposto esquema denunciado não ocorreu. Até agora só não há acusações em processos judiciais relacionadas ao Beira-Rio e à Arena da Baixada.

O maior esquema relacionado à Copa do Mundo foi revelado por executivos da Andrade Gutierrez. Eles contaram que houve um cartel entre as empreiteiras para combinar quem faria cada obra em oito dos estádios, fraudando as licitações. Agora, depoimentos de executivos da Odebrecht confirmam a existência deste conluio entre os construtores, segundo relevado pelo "O Estado de S. Paulo".

Abaixo veja uma relação das acusações envolvendo cada um dos estádios:

1) Maracanã – Ex-executivos da AG (Andrade Gutierrez) e da Odebrecht apontaram pagamento de propina para o ex-governador do Rio Sergio Cabral para a execução da obra. O valor poderia chegar a 5% do projeto que somou R$ 1,2 bilhão. Cabral ainda aceitou a inclusão da AG na obra após acerto de "contribuição". Funcionários da Odebrecht relataram ainda o pagamento a membros do TCE (Tribunal de Contas do Estado) para aprovar a concessão do estádio à empreiteira.

2) Arena Corinthians – Há dois deputados acusados de receber dinheiro da Odebrecht relacionado às obras no estádio: são Andrés Sanchez (ex-presidente do Corinthians) e Vicente Cândido (diretor da CBF), ambos do PT. Delações de executivos da Odebrecht apontam que Andres ficou com R$ 500 mil por meio de pagamentos para André Oliveira (vice do Corinthians), já Cândido é acusado de receber R$ 50 mil para ajudar na operação do financiamento da arena. Emílio Odebrecht, dono da empresa, disse que o estádio foi um presente para o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.

3) Mané Garrincha – Ex-executivos da Andrade Gutierrez afirmam ter pago propinas aos ex-governadores do DF José Roberto Arruda e Agnelo Queiroz por conta das obras do Estádio Mané Garrincha.  O valor para Agnelo seria de 1% da obra, que custou R$ 1,5 bilhão. O estádio ficou com a AG após acerto no cartel de empreiteiras, segundo seus ex-executivos.

4) Arena da Amazônia – Ex-executivos da Andrade Gutierrez dizem ter pago propina para os ex-governadores do Amazonas, Eduardo Braga e Osmar Aziz. O primeiro teria uma cota de 10% sobre obras realizadas no Estado, e o segundo teria aceitado reduzir o percentual para 5%. O estádio ficou com a AG por acerto no cartel, segundo seus executivos.

5) Arena Pernambuco – A licitação do estádio foi fraudada por conta do cartel acertado entre as empreiteiras, segundo o ex-executivo da Odebrecht. A versão é confirmada por ex-funcionários da AG. A Polícia Federal ainda investiga em inquérito indícios de superfaturamento na obra do estádio, o que se dá em separado da operação Lava-Jato.

6) Arena Fonte Nova – Ex-executivos da Andrade Gutierrez apontaram que a obra do estádio ficou com a Odebrecht fruto do cartel feito entre as empreiteiras para divisão dos projetos. O "Estado de S. Paulo" listou a arena como um das obras investigadas no âmbito da operação Lava-Jato, após delações de executivos da Odebrecht.

7) Arena das Dunas – Ex-executivos da OAS relataram pagamento de propina para o senador Agripino Maia (DEM-RN) por ele ter influência na execução das obras. O objetivo seria superar entraves para obter empréstimo no BNDES. A denúncia de cartel feita pela Andrade Gutierrez ainda apontou que a obra ficou com a OAS após acerto entre as empreiteiras.

8) Arena Pantanal – Não há acusações relacionadas à operação Lava-Jato em relação ao estádio. Mas o ex-secretário de Copa do Mato Grosso Eder Moraes afirmou que o ex-governador Silval Barbosa lhe ofereceu R$ 5 milhões em propina para acelerar o processo de contratação da obra. Posteriormente, Eder recuou de seu depoimento. Silval está preso por diversas acusações de corrupção e o jornal "O Globo" informou que deve fazer delação premiada.

9) Arena Castelão – Ex-executivos da Andrade Gutierrez e da Odebrecht apontaram que as obras do estádio foram destinados à empreiteira Queiroz Galvão como parte do cartel de empreiteiras que decidiu o destino de oito arenas.

10) Mineirão – A citação do Mineirão no âmbito da Lava-Jato é de uma esquema que não teria dado certo. Ex-executivos da Andrade Gutierrez relatam que, pelo acerto feito entre empreiteiras, ficariam com a execução da obra no estádio. Mas afirmam que perderam o interesse porque o projeto se tornou uma PPP (Parceria Público-Privada). A Construcap, que fez o estádio, teve executivo preso na Lava-Jato e é acusada por promotores mineiros de desvio de dinheiro no Mineirão com fraude a balanços.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.