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Rodrigo Mattos

Dinheiro da Libertadores foi desviado para conta de empresa de adoçante

rodrigomattos

09/06/2017 04h36

Denunciado pela atual diretoria da Conmebol à Justiça Paraguaia, o esquema de desvios de dinheiro da confederação sul-americana envolveu pagamentos para uma empresa produtora de adoçantes de propriedade do ex-presidente Nicolas Leóz. A maior parte dos recursos da Conmebol foi arrecadado com a Libertadores e a Copa América, competições mais rentáveis da entidade.

A denúncia feita por advogados da Conmebol ao Ministério Público do Paraguai mostrou indícios de desvio de US$ 129 milhões (equivalente hoje a R$ 425 milhões) entre o período de 2000 a 2015. Para se ter ideia do que isso representa, a entidade arrecadou US$ 252 milhões no ano passado, sendo que a Libertadores representou praticamente metade desse valor.

Os recursos foram desviados de quatro formas diferentes como mostra o documento de denúncia da Conmebol: depósitos diretos para contas de Leóz e de uma empresa dele (US$ 28 milhões); transferências para contas não identifacadas em paraísos fiscais (US$ 33,3 milhões); pagamentos a empresas sem comprovação de serviço (US$ 58 milhões) e outros pagamentos a empresas suspeitas no esquema do "Fifa Gate" (US$ 10,4 milhões).

"Funcionários antigos da Conmebol nos informaram que não havia documentos na sede da entidade porque todos ficavam nos escritórios de Leóz. Seu escritório era de onde era gerida a Conmebol. Não existe nenhum documento para comprovar os serviços e transações", contou o advogado da Conmebol Oswaldo Granada ao blog.

Do dinheiro dado diretamente a Leóz, uma parte foi direto para sua conta e outro para a empresa NL Stevia, de propriedade dele e de Maria Celeste Leóz e Nora Cecilia Leóz, de sua família. A empresa NL Stevia é uma fazenda e produtora do adoçante Stevia, fundada por ele no Paraguai. Com o ex-dirigente preso, a empresa continua em funcionamento. Em seu site, há exaltação ao pioneirismo de Nicolás Leoz ao criar a empresa. Esses pagamentos a Stevia e ao ex-cartola ocorreram de 2000 a 2009, em 69 transações bancárias.

No caso das contas não identificadas, o dinheiro foi operado por meio do Banco do Brasil do Paraguai e de seus subsidiários no Panamá e nas Ilhas Cayman, como revelou o site "Globo.com". Só o Brazilian American Merchant, com sede no paraíso fiscal, recebeu US$ 28 milhões. Por isso, os advogados da Conmebol acusam o banco de acorbertar as operações. O BB negou ter descumprido qualquer regra bancária.

"Leóz era muito mimado pelo Banco do Brasil. Seu escritório ficava no mesmo prédio do banco", contou Oswaldo Granada.

Uma terceira parte do dinheiro foi para empresas sem que houvesse nenhum documento de comprovação. A denúncia descreve: "transferências bancárias internacionais e direta em favor de terceiros sem adequado respaldo documento por supostos serviços".

Neste caso, chamam a atenção as transferências de um total de US$ 22,2 milhões para a empresa Alhec durante o período de 2002 e 2013. Há uma agência financeira argentina Alhec que é suspeita de ter participado de diversas negociações irregulares de vendas de jogadores do futebol argentino de uma série de times. Há uma investigação na Argentina que envolve operações desta empresa em vendas de atletas como Aguero, Lavezzi e Pastore. Falecido, o ex-presidente da AFA Julio Grondona, um dos dirigentes mais poderosos da Conmebol em sua época, também supostamente utilizava a agência.

Por fim, há pagamentos para empresas suspeitas de participar do esquema de desvios investigado na Justiça dos EUA. Desse total, há dinheiro pago para a Somerton Limited, do brasileiro José Margulies, um dos indiciados no caso Fifa, no total de US$ 1,1 milhão. Investigação do UOL no caso do Panama Pappers mostrou que essa empresa tinha um contrato de direitos da Libertadores pelo qual tinha direito a US$ 1 milhão por ano durante sete anos. Não fica claro por que recebia o dinheiro.

Outra empresa que aparece no Panama Pappers ligada aos direitos da Libertadores que receberam pagamentos da Conmebol é a Arco Bussiness Developments, com sede em uma paraíso fiscal no Caribe. Essa empresa recebeu US$ 1,5 milhão. Segundo a planilha da denúncia, ela tem ligação com a T & T, empresa nas Ilhas Cayman que detinha todos os direitos da Libertadores de 2008 a 2015, quando foi rompido e refeito com a Fox.

É importante dizer que o dinheiro da Libertadores, no final da linha, pertence aos clubes brasileiros e sul-americanos. A Conmebol é a administradora da competição, mas a maior parte dos recursos deveria ser dado aos times.

Não foi possível encontrar a defesa do ex-presidente da Conmebol Nicolas Leóz que está em prisão domiciliar em sua casa no Paraguai.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.