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Rodrigo Mattos

Clubes deveriam planejar a temporada para o Brasileiro, mas CBF não ajuda

rodrigomattos

27/08/2017 04h00

A posição do Grêmio de priorizar a Copa do Brasil sobre o Brasileiro gerou preocupações de CBF e Globo, e discussões pelo país. A eliminação do time gaúcho do mata-mata e a oscilação corintiana aumentaram o debate sobre o acerto na estratégia. Mas essa discussão acaba desaguando também na forma como o futebol é organizado no Brasil.

Primeiro, é preciso ressaltar que em todo o futebol desenvolvido os clubes costumam priorizar a liga nacional em pontos corridos. Salvo exceções como jogos relevantes da Liga dos Campeões, ou uma final de Copa com o time já longe do topo na tabela da liga local.

Isso se explica por que é a campeonato nacional que permite um planejamento da temporada, tanto de forma esportiva, quanto financeira e na relação com os torcedores. É nele que o clube pode melhor avaliar seu desempenho em relação ao investimento feito.

Por exemplo, com um orçamento x, pode-se estimar que tipo de jogador vai se contratar e estabelecer uma meta de resultado – fugir do rebaixamento, vaga continental, título, etc. Em longas 38 rodadas -alguns campeonatos têm menos -, os acasos tendem a se anular e o time chegar próximo do desempenho que de fato poderia obter. Não é matemático, mas é o cenário mais provável.

Do outro lado, um time em um mata-mata pode ser eliminado por uma bola na trave, uma disputa de pênaltis, um dia ruim de um zagueiro, um chute feliz. Enfim, esse incontável número de fatores que envolvem o futebol, principalmente em jogos parelhos.

Para além da parte esportiva, os pontos corridos permitem o clube saber que terá um dinheiro determinado para a temporada pelo contrato fixo com a televisão. As variáveis econômicas pelo desempenho são menores do que no mata-mata.

E viabiliza um número certo de jogos para serem vistos pelos torcedores criando fidelidade com ele. Sabe-se que serão 19 partidas em casa, com possibilidade de venda de ingressos por temporada ou sócios-torcedores, contratos com estádios, parceiros comerciais, etc.

Agora, para isso, depende-se de um calendário organizado em que todos ou a maioria dos jogos sejam no final de semana para a organização de um evento pelo clube para se aproximar de seu torcedor. Criar o hábito do estádio.

Não é o caso no Brasil com um calendário superpovoado em que o Brasileiro é espremido de maio a dezembro. A CBF insiste em manter Estaduais inchados e ocupando datas nobres como os domingos, em favor de seus aliados de federações. O Nacional é portanto jogado em meio de semana, em sequências insanas de quem já chega no seu início com um elenco desgastado.

Ora, neste cenário, um clube como o Grêmio acaba enxergando em uma competição de tiro mais curto como a Copa do Brasil a possibilidade de minimizar esse cansaço, e poupa no Brasileiro. Não faz sentido para um time tão bom quanto o gremista. Mas a mentalidade do "só faltam três jogos para o título" se instala quando o calendário te empurra para o imediatismo e não a visão de longo prazo.

E a equipe acaba prejudicada por um planejamento equivocado como ficou claro coma  queda de rendimento corintiano. Com as duas derrotas em três jogos do time paulista, o Grêmio poderia almejar estar próximo do líder não tivesse desperdiçado tantos pontos pelo caminho.

Não dá para crucificar. O que a CBF deveria fazer era melhorar as condições para o clube. Se não vai cortar os Estaduais, que alongue o Brasileiro nos finais de semana e deixe as competições menos nobres para o meio de semana.

Que os clubes possam usar reservas em Estaduais em jogos nas quartas durante todo o primeiro semestre por exemplo, enquanto os titulares jogam nos finais de semana no Brasileiro. (O ideal mesmo seria a CBF reduzir drasticamente os Estaduais). De qualquer jeito, os clubes só vão adotar a racionalidade em seus planos para a temporada se essa mesma racionalidade for aplicada para o planejamento de toda a organização do futebol nacional. Ou seguiremos vivendo no caos.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.