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Rodrigo Mattos

Preso, ex-cartola do Barça tem contrato de R$ 80 mi com empresa da Copa

rodrigomattos

30/08/2017 04h00

O ex-presidente do Barcelona Sandro Rosell (Crédito: Manu Fernandez/AP)

Preso na Espanha acusado de corrupção, o ex-presidente do Barcelona Sandro Rosell mantém contrato com uma empresa que faz parte da organização da Copa-2022. É o que mostram documentos da Justiça espanhola. Rosell é o cartola que contratou Neymar para o clube espanhol e que tem relação estreita com o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira.

Rosell foi preso em maio na Espanha acusado de desviar dinheiro de jogos da seleção brasileira em parceria com Teixeira. Há uma ordem de prisão internacional contra o dirigente brasileiro, em processo que já chegou ao Brasil.

Neste período, o cartola do Barcelona tem entrado com diversos recursos para tentar ser solto. Houve novo pedido feito por ele rejeitado no final de julho pela corte espanhola. No recurso, os advogados de Rosell alegaram que ele só mantinha negócios na Espanha.

Mas uma investigação espanhola posterior mostrou que ele é diretor de uma empresa chamada "One of Ours Limited", em Hong Kong. Essa empresa foi criada em oito de janeiro de 2017, e oito dias depois firmou um contrato milionário com a Aspire Foudation Zone, empresa do Qatar. E o que é essa fundação do país da Copa?

A Aspire Zone Foudation é a entidade do Qatar com participação fundamental no Comitê de Candidatura do Qatar-2022 e que atua agora na organização da Copa. Foi investigada pela Fifa por supostos favorecimentos com projetos em países de membros da cúpula da federação internacional com o objetivo de obter votos para a escolha do Mundial-2022. Isso é apontado no relatório de Michael Garcia, contratado pela Fifa para apurar irregularidades nas escolhas das sedes de 2018 e 2022. O documento foi inconclusivo sobre provas.

Rosell já fora contratado da Aspire em 2009 e 2010, assim como tinha relação com o Comitê do Qatar. Por isso, sua amizade e negócios com Teixeira foram investigados por Garcia em seu relatório. Foram apontadas suspeitas no documento sem concluir que votos foram comprados.

Pois bem, os documentos da Justiça espanhola mostram que a empresa de Rosell (One of Ours Limited) assinou um contrato de cinco anos com a Aspire Zone Foudation. Por cada ano, ele receberá € 3,5 milhões (R$ 13,4 milhões), sendo a duração de 2017 a 2022. Ou seja, por seis anos, o contrato lhe renderá R$ 80 milhões até justamente o ano do Mundial. O dinheiro é para administrar o projeto Aspire, o que gerou polêmica na escolha da sede da Copa.

Trecho de decisão da Justiça espanhola relata como Rosell (codinome Feliciano) assinou acordo com empresa da Copa por meio de empresa em Hong Kong

Essa foi uma das justificativas da juíza Carmem Lamela para negar a liberdade a Rosell em 28 de julho. E mostra que o cartola ainda tem influência na organização da Copa do Qatar-2022, embora apareça como investigado pelo comitê de ética da Fifa e preso na Espanha.

A Apire Zone Foudantion é uma parceria do Comitê Organizador da Copa-2022. Foi ela a responsável por terminar a construção do estádio Khalifa International, em maio de 2017, uma das sedes do Mundial. E participa da viabilização de outra arena, além de gramas.

Questionado pelo blog, o Comitê do Qatar não quis fazer comentário sobre Rosell, alegando que ele não tem contrato com a organização. Enviou a seguinte nota:

"O Comitê Organizador pode comentar apenas sobre assuntos relacionados com nossas relações contratuais, e o senhor Rosell não é um contratado da nossa organização. Aspire Zone Foudation é uma das nossas parceiras no Qatar, e completou a construção do Khalifa International Stadium em maio de 2017, enquanto nós ainda estamos trabalhando com eles no Al Bayt Stadium e no projeto no Turf Nursery Project. Nossas preparações para a organização da primeira Copa do Mundo no Oriente Médio estão avançando pelo Qatar."

Não foi possível encontrar representantes da Aspire Zone Foudation. Em suas petições na Justiça espanhola, os advogados de Rosell alegam que ele é inocente das acusações porque não há crime nas comissões que recebeu pelo contrato de venda de jogos da seleção brasileira. Argumentam que a própria CBF alegou não ter tido prejuízos com o negócio, já que enviou uma carta para a Espanha neste sentido.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.