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Rodrigo Mattos

Prisão de Nuzman tem impacto nas finanças e na imagem do COB

rodrigomattos

26/10/2017 06h57

Terça-feira à tarde: um rapaz que aparenta 20 anos passa na frente na sede do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) na Barra da Tijuca. Ao olhar para o prédio, ele aponta e fala para um amigo: "Isso aqui é uma máfia".

Dentro do prédio, pouco antes, a diretoria do COB realizava sua primeira prestação de contas públicas após a prisão do seu ex-presidente Carlos Arthur Nuzman. A intenção era explicar como seriam gastos R$ 225 milhões em verba do governo federal a que tem direito da loteria federal. O assessor pedia para que perguntas fora da distribuição do dinheiro fossem feitas depois da coletiva.

O clima era de constrangimento, com cabeças cabisbaixas, falas pausadas. Um dirigente admite que todos sentiam o escândalo em suas vidas, mesmo que sem envolvimento com nenhuma das irregularidades. Esse efeito ameaça se alastrar também nos cofres do COB e das confederações olímpicos.

"A situação (prisão de Nuzman) realmente teve impacto. Não tem como negar, camuflar nada. Há uma perda inicial, já havia tendo essa perda antes desses fatos recentes. Houve confederações que tiveram perdas antes disso, algumas tiveram todos os recursos cortados. A forma de lidar é buscar esses caminhos que estou tentando encontrar. Se deixarem, vou encontrar", disse o novo presidente do COB, Paulo Wanderley.

O COB, hoje, não tem patrocinadores privados fortes. Todos que estavam na entidade por conta da Olimpíada do Rio-2016, em parceria com o COI, saíram sem deixar rastro. Não houve substituição no mesmo nível, sendo parceiros hoje a Universidade Estácio e a empresa chinesa Peak. Recuperar apoio privado já era difícil com a crise, e agora se torna tarefa quase impossível.

Entidade com muito mais holofotes do que o COB, a Fifa perdeu patrocinadores quando seu ex-presidente Joseph Blatter e a cúpula da entidade tiveram que sair por irregularidades na gestão. Só medidas que indicaram mudanças de gestão e punições a antigos culpados geraram alguma recuperação da imagem da entidade, que, diga-se, tinha um produto mais atrativo para comercializar.

"Tem que ter um trabalho para demonstrar ao mercado uma nova gestão, uma busca de credibilidade. Tipo estou investigando a minha casa", explicou o consultor da BDO, Pedro Daniel, falando sobre recuperações de confederações com imagem afetada por casos de corrupção. "Isso tem que ser feito antes de procurar patrocínios."

Até agora, no entanto, o COB tem sido tímido nos seus passos para tentar limpar o passado de um ex-presidente acusado de comprar votos. Questionado se faria uma auditoria nas contas do antecessor, Wanderley negou que vá tomar qualquer medida para fazer devassas na entidade por iniciativa própria. Nem os R$ 1,5 milhão em saques feitos na gestão Nuzman serão alvo de verificação independente.

"Vou agir sob demanda do Ministério Público ou quem quer que seja autoridade nisso", afirmou o dirigente, quando questionado sobre o assunto. "Os órgãos competentes que me solicitem."

É verdade que o COB busca uma reforma do estatuto e fez uma concorrência para contratar uma auditoria de renome no mercado. Mas recuou do primeiro processo e deve realizar o outro. Os custos envolvidos são um problema já que não está claro se sobra dinheiro na entidade. Os recursos de estatais também secaram diante da crise de caixa do governo federal.

A prisão de Nuzman também transformou-se em escândalo internacional que levou o COI a fechar as torneiras para o COB do repasse de dinheiro a filiados. A perda é estimada em US$ 2,2 milhões para 2017. Caberá ao comitê brasileiro agora convencer  desde os cartolas do alto escalação ao rapaz que passa na sua porta que é possível mudar essa realidade.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.