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Rodrigo Mattos

Propinas de cartolas somam seis vezes prêmio de campeão da Libertadores

rodrigomattos

23/11/2017 11h00

As propinas pagas a cartolas pelos contratos da Libertadores somam pelo menos US$ 49,7 milhões (R$ 162 milhões) durante 10 anos, segundo acusação na Justiça dos EUA. Esse valor foi levantado pelo blog no depoimento do ex-executivo da Torneos Alejandro Burzaco, que detinha os direitos da competição. O dinheiro representa mais de seis vezes o valor de toda a premiação ganha pelo time campeão da competição.

No final das contas, o montante foi desviado dos clubes sul-americanos que disputaram a Libertadores nesses dez anos e tiveram cotas menores para privilegiar os cartolas. O prejuízo é ainda maior levando-se em conta que, por causa dos supostos subornos, os contratos tiveram valores inferiores aos de mercado pois não havia concorrência. Além disso, os depoimentos ainda não acabaram e a conta pode subir.

Na semana passada, Alejandro Burzaco depôs à Justiça norte-americana quando apontou pagamentos de subornos para 14 cartolas para manter os direitos de televisão da Libertadores. Esses montantes eram repassados anualmente, com extras após assinaturas de renovações. Entre os beneficiados, estavam os brasileiros Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, ex-presidentes e presidente da CBF, respectivamente.

No último contrato válido da T & T, empresa do grupo de Burzaco na Holanda, esta pagava US$ 27,8 milhões à Conmebol pelos direitos mundiais da Libertadores de 2015. Isso era obtido sem concorrência com renovações constantes que iam até 2022 antes do escândalo da Fifa estourar.

Para ter esses direitos, o ex-executivo contou que pagava propinas deste 2006 à cúpula da Conmebol. O blog somou todos os valores relatados de pagamentos feitos por Burzaco a cada um dos 14 cartolas.

Quem mais arrecadou com a Libertadores foi o argentino Julio Grondona, ex-vice da Fifa, ex-presidente da AFA e mais poderoso na Conmebol. Até morrer ele levou US$ 8 milhões em propinas pelo torneio, segundo o ex-executivo da Torneos. Sua cota anual começou em US$ 600 mil, subiu para US$ 1 milhão e depois para US$ 1,2 milhão.

O total é exatamente o mesmo valor recebido pelo campeão da Libertadores considerando todas as cotas desde a primeira fase até a premiação pelo título. Será esse o valor arrecadado pelo Grêmio se bater o Lanús na decisão da competição de 2017.

No relato de Burzaco, os cartolas começaram a receber US$ 600 mil por ano pela Libertadores, em 2006. Esse valor cresceu e atingiu US$ 1,2 milhão no caso do presidente Nicolás Leoz antes de ter de renunciar por acusações de corrupção. Enquanto isso, só houve reajustes de cotas de clubes após uma ameaça de revolução com a formação da Liga Sul-Americana em que os times quase abandonaram a competição.

As propinas não geravam um prejuízo apenas pelo dinheiro desviado. Após uma concorrência, em 2017, a Conmebol obteve um contrato com agência de marketing esportivo que vai pelo menos dobrar os ganhos com a Libertadores e Sul-Americana em 2019. O valor dobrou em relação ao contrato com a Fox Sports, que já teve um reajuste em relação ao acordo inicial com a T & T. Veja abaixo quanto levou cada cartola pela Libertadores de acordo com o relato de Burzaco:

Julio Grondona (Associação de Futebol Argentino) – US$ 8 milhões

Nicolas Leóz (ex-presidente da Conmebol) – US$ 6,8 milhões

Eduarco Delucca e José Luis Meizner (ex-secretários-gerais da Conmebol) – US$ 6 milhões

Eugênio Figueredo (ex-vice e presidente da Conmebol) – US$ 6,2 milhões

Ricardo Teixeira (ex-presidente da CBF) – US$ 4,2 milhões

José Maria Marin (ex-presidente da CBF) – US$ 1,650 milhão

Marco Polo Del Nero (ex-presidente da CBF) US$ 1,650 milhão

Seis presidentes de outras federações nacionais – US$ 15,2 milhões

Juan Angelo Napout (ex-presidente da COnmebol) – Valor não foi especificado, embora tenha havido indicativo de pagamento.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.