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Rodrigo Mattos

Por que a "força nos bastidores" faz mal à Libertadores e ao futebol

rodrigomattos

26/11/2017 04h00

Quase final da primeira decisão da Libertadores, o Grêmio tem um pênalti claro a seu favor ignorado apesar do árbitro de vídeo. O fato gera uma justa insatisfação da diretoria gremista que se transforma em seguida em uma iniciativa para reclamar formalmente à Conmebol. Busca-se apoio político, a famosa "força de bastidores", para evitar novos prejuízo.

Não há porque criticar a atitude gremista. A diretoria do time gaúcho dança conforme a música: a Libertadores é uma competição também jogada fora de campo e é preciso se precaver. Quando um dirigente vai à Conmebol, o cartola que está do outro lado lembra dele e vai tomar mais cuidado com arbitragem, julgamentos, etc. Não muito diferente do que ocorre na CBF em relação ao Brasileiro.

O que é lamentável é que os clubes, principalmente os brasileiros, ainda tenham que fazer esse jogo de "força de bastidores" na principal competição para garantir lisura da competição. E isso ocorre por conta do excesso de desconfiança em relação à Conmebol por uma série de escândalos, que iam de desvios de dinheiro até arbitragem.

Ora, a Conmebol mudou de diretoria e o novo presidente Alejandro Dominguez tomou, sim, algumas atitudes bem corretas. Fez concorrência pelos direitos da Libertadores, aumentou a transparência, abriu as portas para os clubes. Mas a herança é pesada e não se desanuvia tão facilmente.

Não está tão longe o período em que Julio Grondona (ex-presidente da Associação de Futebol Argentina) mandava em tudo, inclusive em árbitros da Libertadores. Atualmente, o presidente da comissão é Wilson Seneme, ex-árbitro brasileiro que tem uma boa reputação até agora.

O que devemos cobrar da CBF não é que faça "jogo de bastidores", mas ajude a Conmebol a se livrar desse passado e profissionalize sua gestão. Isso vale para a questão da arbitragem onde claramente é preciso de mão de obra mais qualificada. Mas como a CBF cobrará uma lisura maior se o seu presidente nem pode sair do Brasil ou será preso?

Espera-se imediatamente que o Grêmio consiga com sua viagem uma arbitragem sem erros no segundo da final. Mas, mais importante, espera-se a longo prazo que o Grêmio ou qualquer outro clube brasileiro só tenha que ir à Conmebol para discutir regulamentos, fórmulas de disputa, cotas de premiação… E que nem tenha que se preocupar com o árbitro que será escalado.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.