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Rodrigo Mattos

O que pesa contra e a favor de Del Nero em seu julgamento na Fifa

rodrigomattos

18/01/2018 04h00

A partir desta sexta-feira, o presidente afastado da CBF, Marco Polo Del Nero, começa a ser julgado pelo Comitê de Ética da Fifa com um depoimento dele por videoconferência. O resultado será decisivo para o futuro do futebol nacional já que ele pode ser banido em definitivo do cargo e de atividades no esporte. O blog então lista os pontos a favor e contra o cartola na definição de seu futuro.

Lembremos primeiro que Del Nero será julgado por acusações de corrupção que o atingem na Justiça dos EUA. O Departamento de Estado norte-americano apontou indícios de que ele recebeu propina por contratos da CBF e da Conmebol. Só não foi julgado por lá porque não saiu do Brasil.

É exatamente por não sair do país por correr o risco de ser preso que Del Nero não irá à Suíça para se defender pessoalmente. Mandará advogados e falará por videoconferência. Se não aceitasse depor, sua situação se complicaria ainda mais. Aí vão os pontos.

Provas nos EUA 

O Departamento dos EUA reuniu provas contra Del Nero que foram obtidas pelo Comitê de Ética da Fifa, tendo sido apresentadas durante julgamento do ex-presidente da CBF José Maria Marin. Entre elas, estão as delações dos ex-executivos de empresas de TV José Hawilla e Alejandro Burzaco que o apontam como destinatário de US$ 6,5 milhões em propinas.

A esses depoimentos, foram acrescidos e-mails de Eladio Rodriguez, funcionário da Torneos empresa de Burzaco, em que relata pagamentos a serem feitos a Del Nero. Há ainda registros de viagens do cartola, por meio de movimentação na fronteira, que demonstram que ele estava em locais de reuniões citadas por testemunhas. Há ainda atas das reuniões da Conmebol com sua participação.

Sem comprovante de depósito

Uma das principais argumentações da defesa de Del Nero é a de falta de provas contra ele. Seus advogados apontam que não foi apresentado nenhum comprovante de depósito de uma das empresas que pagaram propina em favor do dirigente. Outro fato que será explorado por sua defesa é de que não há relatos de conversas diretas de Del Nero com os acusadores, sejam gravadas ou relatadas. (Burzaco mencionou um encontro entre eles).

A empresa Support Travel, que recebia as propinas e repassava a dirigentes, fez depósitos em favor de empresa de propriedade de José Maria Marin, como demonstrado por procuradores norte-americanos. Há valores recebido pela Support que ninguém demonstrou onde foram parar. Advogados de Del Nero dizem que ele não tem ligação com a empresa, que é de Wagner Arabhão, empresário que tem negócios com a CBF.

Del Nero mandava na CBF na gestão Marin

Durante o julgamento, advogados de José Maria Marin descreveram seu cliente como uma espécie de Rainha da Inglaterra, que não mandava nada na CBF. Alegavam que quem tinha o poder de fato era Del Nero, então, vice-presidente da entidade. Os contratos suspeitos foram todos assinados durante a gestão de Marin, assim como as propinas supostamente recebidas.

Del Nero só assumiu o poder em 2015

Já a defesa de Del Nero afirma que ele só assumiu a presidência da CBF em 2015, portanto, só a partir deste ano que é responsável por atos de gestão. Advogados do cartola vão alegar na Fifa que o dirigente não pode ser responsabilizado por medidas de antes de sua administração na confederação.

Política e imagem ruim

A gestão do novo presidente da Fifa, Gianni Infantino, quer passar a impressão de que a entidade se limpou de problemas de corrupção do passado, ainda que conviva com suspeitas de ter desmontado os mecanismos de fiscalização da federação. Neste sentido, a punição a Del Nero pode ser vista como uma resposta à Justiça dos EUA, onde a Fifa se apresenta como vítima dos casos de corrupção.

Outro fator que pesa é de que dirigentes afastados pelo Comitê de Ética não costumam ser absolvidos. Ou seja, seria difícil reverter uma punição. E a própria imagem de Del Nero depondo em videoconferência para não correr o risco de ser preso o prejudica em um julgamento.

Punição sem base

A política é também a argumentação de defensores de Del Nero. Segundo eles, a pena imposta pela Fifa é uma medida de Infantino por ver o brasileiro como um desafeto. A tese dos advogados é justamente que a federação internacional quer mandar um recado para a Justiça dos EUA, e não se atém aos documentos e dados do processo.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.