Bem organizada, Libertadores pode ser atrativa no mundo pelo equilíbrio
A Conmebol implantou recentemente uma série de medidas que mostram a cara que pretende dar à Libertadores no futuro (concorrência de Tvs e final única). Sua meta: transformar a competição em global. Mas isso é possível diante do abismo que separa a competição da Liga dos Campeões que atrai o planeta inteira?
Vamos responder por partes. Não, acabar com a diferença técnica entre a competição sul-americana e europeia não será possível. Sim, será possível reduzir esse vantagem do velho continente e apostar nas qualidades da Libertadores que os europeus não têm.
Primeiro, como é possível reduzir a vantagem? Os clubes sul-americanos precisam ganhar mais dinheiro. Para isso, são essenciais duas coisas: a organização deles próprios e a estruturação do futebol de forma a melhorar o nível econômico e o espírito das competições.
Um primeiro passo foi dado em alguns clubes brasileiros e argentinos. Uma matéria do "Globo.com", nesta semana, mostra que a recuperação financeira de Flamengo e River Plate foi similar, e que ambos têm possibilidades de expansão de seus ganhos. A Argentina terá um crescimento dos contratos de TV com a saída da mídia estatal e o clube rubro-negro atua para incrementar patrocínios, sócios e bilheterias.
Outros clubes do continente como Boca Juniors e Palmeiras seguem por caminhos parecidos, com finanças ajeitadas e dinheiro para investir. É só olhar para os elencos desses quatro times que melhoraram em relação a anos anteriores. Há gigantes brasileiros e argentinos que passam por dificuldades, mas a capacidade de investimento no continente, no geral, cresceu. Um sistema de licenciamento de clubes na Conmebol, ainda embrionário, pode ajudar se for levado a sério.
Com novo contrato de televisão, em 2019, a Libertadores deve aumentar a distribuição de dinheiro para os clubes, representando um novo ganho. Não é suficiente para atingir a Europa, mas aumenta o nível técnico.
Aliado a isso, a Conmebol promete intensificar medidas para aumentar segurança nos estádios e dar mais neutralidade ao jogo, outro ponto que melhora a qualidade da partida. O árbitro de vídeo, atualmente restrito a fases mais avançadas, é mais um fator positivo visto que as arbitragens da Libertadores são tradicionalmente problemáticas.
Com a melhoria do jogo, e por consequência do produto, a Conmebol pode apelar ao que lhe é peculiar para se vender ao mundo. Um ponto é o equilíbrio. Nos últimos dez anos, foram dez campeões diferentes. Na Europa, foram seis times campeões.
O velho continente é marcado pelos supertimes imbatíveis como Real Madrid, Barcelona, Bayern e alguns emergentes como City e PSG. Por aqui, ainda que times maiores tenham maior poderio econômico não é incomum serem batidos por menores – veja a dificuldade do Flamengo de passar da primeira fase. Se for na bola, esse equilíbrio é boa notícia. Com jogos bons, a imprevisibilidade pode acrescentar uma graça à Libertadores que a Champions não tem quando Messi enfrenta os Celtics da vida.
Outro aspecto é a torcida. Neste ponto, vejo um equívoco da Conmebol ao optar pela final única. Compreendo, no entanto, a escolha porque um grande evento cria uma visibilidade inédita para a competição. Mas as duas decisões tinham a cara da torcida quente sul-americana, papel picado, bandeiras, etc. Tudo que não se vê mais na Europa. É autêntico, é apaixonante, logo, vai atrair o público do mundo.
Resta à Conmebol, que na área comercial tem avançado, saber empacotar o seu bem mais valioso para mostrar ao mundo uma competição que não é a Liga dos Campeões, mas tem pontos fortes e autenticidade raras no mundo. Quanto mais crescer a Libertadores, mais crescerão os clubes que a disputam, em um processo de duas vias.
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