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Rodrigo Mattos

Brasileiro é liga mais valiosa das Américas mesmo maltratado por CBF

rodrigomattos

14/04/2018 04h00

Com seu início neste sábado, o Brasileiro-2018 é o campeonato de futebol mais valioso das Américas em termos de arrecadação. O total dos seus direitos de televisão envolvem em torno R$ 1,5 bilhão, valor superior ao da Libertadores, da Liga Mexicana, da Argentina ou dos EUA. Isso apesar de a CBF tratar mal o campeonato em relação a calendário, promoção e exigências técnicas.

O Brasileiro deste ano terá 380 jogos distribuídos desde o meio de abril até o início de dezembro, excluído O período de Copa do Mundo. Esse é o primeiro problema já que o campeonato para às vésperas do Mundial enquanto outras ligas relevantes têm períodos maiores de intervalo.

É uma questão que existe desde o início dos pontos corridos já que a CBF reduziu pouco os Estaduais, mantendo um calendário espremido. Ainda assim, o Brasileiro foi capaz de catapultar os seus valores mesmo com pouca concorrência de televisões para a Globo até 2016.

Um fator é a implantação do sistema de pontos corridos que deu estabilidade a competição, e um número regular de jogos durante toda a temporada. Paralelo a isso, há o crescimento do mercado de TV Fechada no Brasil.

Houve a implantação do modelo de pay-per-view praticamente coincide com os pontos corridos, tendo início E 2002. Atualmente, essa fatia é responsável por em torno de R$ 600 milhões de receitas para os clubes, mais de um terço do que total de receitas de televisão. O restante é de TV Fechada (valor pequeno em 2018) e TV Aberta. No total, soma-se em torno de R$ 1,5 bilhão contando todos os contratos individuais dos clubes, segundo apurou o blog.

Esse valor terá um salto em torno de 20% com a entrada do Esporte Interativo em jogos de entre seis e oito times em 2019. A concorrência aumentou o valor do Brasileiro. Isso apesar de os contratos serem feitos separadamente.

Em comparação, a Libertadores em 2017 gerou US$ 144 milhões (R$ 487 milhões). Esse valor vai se manter estável em 2018, pelo menos triplicando de valor no próximo ano com a garantia do novo contrato. Mas, então, o Brasileiro aumentará o montante: ou continuará como a liga mais valiosa ou no máximo deve ser igualado pela Libertadores dependendo das licitações de direitos de TV.

Em relação ao Campeonato Argentino, o valor acertado é de R$ 650 milhões. A Liga Mexicana e a MLS (Major League Soccer) também estão atrás do Brasileiro.

A receita, no entanto, podia ser muito maior se outras propriedades fossem exploradas. Não há venda consistente de marketing. A Globo não tem negociado todas as placas, a CBF não consegue mais fechar direitos sobre o nome.

Licenciamento de produtos também é quase uma nulidade, o que poderia ser feito pela confederação. Outro ponto é a venda de direitos internacionais, pouco trabalhada e quase insignificante dentro do bolo geral. A CBF passará a negociar esse direito no lugar da Globo para 2019.

A falta de visibilidade internacional tem relação com a desorganização do calendário e a imprevisibilidade de horários de jogos, além da ausência de estrelas internacionais no Brasileiro. Uma melhoria nas finanças dos clubes, que não são fiscalizados pela CBF, teria impacto neste último item.

Há ainda aspectos técnicos. A confederação inflou o valor da premiação da Copa do Brasil, enquanto a premiação por resultado do Brasileiro só virá em 2019 e será menor do que o torneio. Isso torna a competição mata-mata possivelmente mais atraente sob o ponto de vista financeiro. Ainda não há exigências mais duras sobre itens como gramados, o que prejudica qualidade de jogos.

A conclusão é que a estabilidade dos pontos corridos, com mais jogos para vender, e o sistema de televisão com três plataformas foi capaz de elevar o patamar do Brasileiro nesses últimos 16 anos. Mas a preferência por decisões políticas da CBF em relação à organização do campeonato, em detrimento de posições técnicas, é um entrave para um salto de qualidade do Nacional.

PS Fora do futebol, o Brasileiro perde em termos de arrecadação para NBA, NFL e Major League Baseball nos EUA. Dentro do futebol, fica atrás das cinco principais ligas europeias: Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e França, além da Liga dos Campeões.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.