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Rodrigo Mattos

Apesar do bom trabalho, Tite errou e não deveria ser imune a críticas

rodrigomattos

07/07/2018 04h00

Ao assumir a seleção brasileira há quase dois anos, o técnico Tite transformou um caos em um time organizado. A ponto de chegar à Copa com ares de favorito o que se intensificou com a queda de rivais. Sua eliminação nas quartas-de-final para a Bélgica tem um quê do acaso do futebol, mas tem, sim, erros cometidos na campanha.

É melhor o Brasil aprender com erros do que simplesmente atribuir a derrota ao aleatório. Então, vamos tentar traçar aqui alguns pontos que este blog viu como equívocos. Até porque os elogios a Tite, a maioria justos, já foram em abundância.

Em relação à escalação da partida contra a Bélgica, está claro que a ideia de Roberto Martínez prevaleceu sobre a Tite no início do jogo. A formação mais defensiva da Bélgica – com Fellaini e Chadli nos lugares de Mertens e Carrasco – ofereceu uma resistência maior para a seleção do que se via em jogos anteriores do time europeu.

Mas foi ofensivamente que a postura belga desorganizou o Brasil. Com dois na frente e um meia encostado, a Bélgica estabeleceu uma rotação de posições em que os volantes brasileiros Fernandinho e Paulinho, em jogos ruins, simplesmente não achavam os rivais. Lukaku recuou para armar o contra-ataque do segundo gol de De Bruyne. Hazard estava em todos os lados, da esquerda para o meio.

E aí há uma erro crasso: Fernandinho é mesmo que estava perdido no 7 a 1 para a Alemanha. "Ah, mas faz muito tempo – Naquela vez, ele tinha o Luiz Gustavo como primeiro volante – o Guardiola adora ele". Bom, fato é que o mesmo volante fracassou de forma retumbante em duas eliminações brasileiras em Copa. Será que foi uma boa ideia apostar nele como único reserva de Casemiro na posição?

Tite acertou na substituição com as entradas de Renato Augusto e Douglas Costa – que foram bem – no lugar de Paulinho e Jesus. A seleção voltou a ser um time da metade do segundo tempo para o final. Antes disso, era na base da tentativa e erros, com lances individuais.

Outro equívoco foi a manutenção por tanto tempo de Gabriel Jesus como titular. Está claro que não vive boa fase. Além de não marcar em cinco jogos, não estava ajudando a fluidez do ataque. Destaca-se sua capacidade de marcação, mas foi ele que permitiu uma conclusão de Kompany no primeiro pau por marcar mal o escanteio.

É verdade que se saísse um gol de empate e o Brasil tivesse virado não seria nenhum absurdo. Mas é irreal achar que a seleção fez um grande jogo. Na maior parte do tempo, foi mal coletivamente e mostrou claros sinais de nervosismo quando em desvantagem. É só ver quantas conclusões tecnicamente fáceis errou. Se chutou tanto a gol, e tão mal, há algo errado aí.

Outro aspecto a se destacar é a gestão de elenco, tão elogiada em Tite. Bom, o Brasil tem em Neymar seu melhor jogador e ele não rendeu o esperado. Durante a maior parte do tempo, esteve envolto em uma controrvérsia sobre seu cai-cai. Tite o protegeu publicamente.

Houve uma chamada do técnico no atacante que até melhorou sua postura após os dois jogos iniciais. Mas, nas quartas, de novo, ele insistia em quedas, sendo que o próprio técnico foi pedir árbitro de vídeo para um lance em que Neymar… se jogou. Ora, isso não é referendar a simulação? No final, ele tem jogado menos do que pode em diversas ocasiões por isso, e cabe ao treinador mostrar essa realidade já que seu entorno limita-se a bajula-lo. Hazard, por exemplo, estava difícil de derrubar em contraste.

Há questionamentos pertinentes e justos também sobre a montangem de elenco, e a questão das contusões. Por exemplo, Tite morreu na Copa com Taisson no banco. Com a convocação questionada, o jogador nunca parece ter sido uma opção real quando houve problemas. Estava ali por que se podia haver alternativas reais em seu lugar?

Fred ficou a Copa inteira com problemas físicos. Não foi cortado para dar lugar a outro e nunca jogou. O próprio Renato Augusto perdeu jogos. Será que não era o caso de ter menos jogadores em estado físico complicado para a fase final?

Obviamente, esses questionamentos aqui expostos não são verdades absolutas, nem explicam a eliminação do Brasil como tábua de regras. Mas é importante, sim, criticar por que é só assim que se evolui, como ocorreu após 2014. Não dá para só botar na conta de um pé torto na conclusão.

PS A continuidade do trabalho de Tite, que é a preferência da diretoria da CBF, é a melhor escolha para atual conjuntura do futebol brasileiro. Ele é o treinador mais preparado para dirigir a seleção, especialmente com mais quatro anos. Terá, assim, a oportunidade de aprender com a Rússia-2018.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.