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Rodrigo Mattos

Neymar vive em uma bolha isolada de críticas que só o prejudica

rodrigomattos

08/07/2018 07h08

Eliminado o Brasil, Neymar não deu entrevistas, evitando o escrutínio de perguntas incômodas. No dia seguinte, postou uma mensagem no instagram dizendo que era o pior momento da sua carreira. Em sua página social, comentários críticos são bloqueados por mediadores, só se vê elogios e apoio.

No mesmo dia, o coordenador da seleção Edu Gaspar disse que não era fácil ser Neymar, e que tinha pena do jogador. Anteriormente, o técnico Tite já o tinha protegido em entrevista após o jogo com o México, ao impedir que respondesse uma pergunta sobre ataque de Juan Carlos Osório.

O entorno do jogador tem parças, familiares, namorada, cabeleireiro, todos dispostos a elogiá-lo o tempo inteiro. As críticas são externas, de jornalistas, de outros técnicos, de ex-jogadores. Quando ocorrem, são alvo de contra-ataque do staff do atleta como ocorreu com comentários de Galvão Bueno, ou simplesmente ignoradas.

De uma certa forma, a bolha em que vive o craque brasileiro é um reflexo dos tempos atuais. Essa realidade onde redes sociais são na maioria das vezes plataformas principalmente de exibição, e não de debate. Onde a blindagem a celebridades, no caso de jogadores, virou regra.

Não é à toa. As imagens desses atletas valem milhões em explorações de patrocínio, e portanto são protegidas arduamente para que o fluxo de dinheiro continue. Neymar é um produto e, como tal, entende que deve ser vendido, não debatido.

Esportivamente, a consequência é que a falta de acesso a críticas, ou a ignorância deliberada delas, leva o jogador a acreditar que faz tudo corretamente em campo e nada tem a evoluir. Por que se preocupar com a fama de cai-cai se, por princípio, Neymar acredita que todos os comentários negativos são uma tentativa de miná-lo? Quem pensa assim raramente vai ser capaz de mudar, de se aprimorar.

Isso não significa que o craque brasileiro seja culpado pela eliminação. Fez uma Copa de altos e baixos, uma atuação brilhante diante do México, uma decepção contra a Bélgica. Fato é que poderia ter dado muito mais ao time pelo seu potencial ainda que recentemente tivesse se recuperado de contusão.

Para que ele atinja seu auge, não adianta estender um tapete vermelho para Neymar ou protegê-lo em excesso. O futebol tornou-se um jogo de atletas milionários e suas imagens superprotegidas, mas continua a ser jogado no mesmo gramado verde habitado por zagueiros duros. Quem não enfrenta e aprende com críticas ou recebe cobranças fora de campo vai ter dificuldade para se virar com as botinadas dentro dele.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.