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Rodrigo Mattos

Abel inverte tudo por um futebol total, mas Fla é só desordenado mesmo

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25/04/2019 04h00

Foto: Rodrigo Buendia/AFP

A derrota do Flamengo para a LDU foi a quarta atuação ruim do time em cinco jogos na fase de grupos da Libertadores. Só foi bem de fato diante do time equatoriano no Maracanã. Não é por acaso que o time chega à última rodada ameaçado de desclassificação, necessitando de um empate fora de casa contra o Peñarol.

Os equívocos do Flamengo são, sejamos claros, coletivos. Começam atrás em sua defesa que costuma passar sufoco até para times frágeis. Surpreende se pensarmos que quatro dos jogadores defensivos atravessam boas fases, Diego Alves, Rodrigo Caio, Cuellar e Renê. Como pode ser ruim uma defesa em que a maior parte dos seus atletas individualmente está bem?

Ora, simples, o posicionamento dos jogadores rubro-negros é desastroso. Como se viu quando Pará ficou parado lá atrás fora da linha de impedimento dando condição para Anagonó após um bicão da defesa equatoriana. Vendido, Léo Duarte foi correr atrás do pesado atacante do time equatoriano, sem sucesso. Diego Alves, talvez, pudesse sair. Fato é: não havia um movimento coordenado ali.

A LDU também encontrou espaços nas laterais do campo porque Pará e René não contavam com a ajuda de Gabigol e Arrascaeta. Nenhum dos dois voltava como deveria para acompanhar os laterais que subiam rivais que subiam ao ataque.

Faltava também algo básico como o posicionamento para pegar a segunda bola após afastar o escanteio. O time equatoriano insistia em cruzamentos, e os zagueiros do Flamengo vinham ganhando pelo alto. Rodrigo Caio, diga-se, talvez tenha sido ao lado de Cuellar os jogadores que se salvaram no Equador. Mas a bola afastada pererecava e voltava assim como a que sobrou para Chicaiza. Ele driblou dois com cortes secos e virou o jogo.

Se atrás estava mal posicionado, o Flamengo era desordenado para sair ao ataque. Uma das explicações foi ciranda que Abel Braga decidiu fazer no ataque desde o jogo contra o Peñarol. Sim, é desejável que um time tenha movimentação, com alguma liberdade para seus atletas. Mas isso precisa ser treinado e tem que se buscar as posições onde os jogadores vão melhor.

Desde a partida contra o Peñarol, Abel decidiu deslocar Gabigol para a ponta direita com Bruno Henrique no meio, uma troca que antes era só alternativa pontual. Neste cenário, Everton Ribeiro vai para o meio e Arrascaeta entra na ponta esquerda. A principal justificativa que Abel tem dado é o bom rendimento ofensivo de Bruno Henrique, que, de fato, tem feito muitos gols.

A questão é que todas as outras trocas de posições pioraram os outros jogadores. Gabigol não tem mais velocidade para jogar pela ponta, nem volta corretamente para a cobertura. Produz pouco na frente, e compromete atrás. Não foi uma surpresa: foi assim também diante do Peñarol quando foi expulso.

Arrascaeta sabe jogar na esquerda, mas, somado a Gabigol do outro lado, isso significa que o Flamengo abre mão de ter um jogador veloz pela ponta. Isso porque tem Bruno Henrique no time, e Vitinho na reserva. Qual a lógica? Para completar, o melhor jogador do time Everton Ribeiro sai da posição onde melhor rende, pela direita, onde em seus melhorias dias tem liberdade para cortar para o meio.

No meio desse caos, o time perde pouco a pouco o toque de bola que lhe era característico em 2018. Abel prometera em troca contra-ataques rápidos, um time vertical. Bom, não foi o que se viu na maior parte dos jogos até aqui.

A discussão se o Flamengo deve escalar Diego ou Arrascaeta, Vitinho ou Gabigol, é menor perto desses problemas. O técnico rubro-negro parece ver em seu time um futebol total, com variações, estilo Holanda da década de 70. Mas, na realidade, trata-se de um time extremamente desordenado. Talentos individuais podem ser suficientes para vencer um desnivelado Carioca, mas não são o bastante para voos mais altos.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.