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Rodrigo Mattos

Com enxurrada de estrelas, Brasil precisa lhes dar 'condições europeias'

rodrigomattos

10/08/2019 04h00

A janela de transferências do meio da temporada de 2019 trouxe ao Brasil um grupo de jogadores que atuava na Europa e boa parte deles em times de elite. É inegável o acréscimo técnico aos nossos campeonatos de atletas como Daniel Alves, Filipe Luís, Rafinha, além de europeus como Juanfran e Pablo Marí. O salto de qualidade do futebol nacional, no entanto, depende também do entorno e da infraestrutura dos times para melhorar.

Veja o exemplo de Filipe Luís que, antes mesmo de acertar com o Flamengo, já observava ao presidente rubro-negro Rodolfo Landim a necessidade de melhorar o gramado do Maracanã. Campo este que, por sinal, foi criticado por Messi e Suárez, entre outros que estiveram aqui na Copa América.

Contratado, o lateral deu entrevista ao "AS" dizendo que o jogo no Brasil era mais lento por conta da qualidade dos campos e dos árbitros que apitavam faltas demais. Está correto em sua análise. Historicamente, nem os gramados são bons no país, nem os juízes deixam correr o jogo como deveria.

Se pensarmos no cenário do Brasileiro, o único gramado que iguala em qualidade os europeus é o da Arena Corinthians. Estádios modernos como o Maracanã, Arena Fonte Nova, Arena Grêmio, Allianz Parque e Mineirão têm campos de ruins para razoáveis, dependendo do caso.

Ressalte-se que, por conta da Copa do Mundo, temos em média estádio modernos. Mas, ainda assim, há problemas como a iluminação do Morumbi, que foi reformada por deficiência e sofre críticas pela forma como foi colocada. Outros estádios têm problemas de luz insuficientes como São Januário.

Um ponto positivo em relação à infraestrutura é que a maioria dos clubes já têm centro de treinamento de primeiro nível, com campos muito melhores do que os jogadores têm de enfrentar nos jogos oficiais. Não deixa de ser estranho que tenhamos gramados de treinos melhores do que os usados no espetáculo para o público.

No caso dos árbitros, a implantação do VAR reduziu o número de erros grosseiros vistos no Brasileiro. Mas, ao mesmo tempo, agravou a questão do jogo paralisado toda hora. Às vezes, os árbitros ficam até 5min para decidir um lance com o vídeo, e todo mundo no estádio esperando. Ao decidir usar o VAR, a Premier League já estabeleceu de cara que não seria admissível cinco minutos de jogo paralisado, nem intervenções a toda hora.

E a crítica de Filipe Luís sobre o jogo parar demais também é pertinente. Essa é uma questão que a comissão de arbitragem da CBF tem enfrentado há alguns anos e houve redução do número de faltas. Ainda assim, é bem comum vermos juízes que param a partida toda a hora, em geral, por insegurança.

Outra questão a ser enfrentada é a do calendário do futebol brasileiro. Não é admissível que os clubes façam o investimento que fizeram em jogadores desse porte e os percam em rodadas relevantes do Brasileiro ou na Copa do Brasil.

A CBF prometeu que os campeonatos iriam parar em datas Fifa para a próxima temporada. Mas o "Globo Esporte" já mostrou em matéria que o Brasileiro não deve parar para a Copa América em 2020. Quer dizer: os clubes fazem um esforço para repatriar jogadores da seleção para os perderem por um mês, fora atletas de outras seleções como Guerrero e Arrascaeta.

Os investimentos feitos pelos clubes brasileiros nesta janela -nem todos eles sustentáveis por receitas dos clubes – tendem a incrementar o Brasileiro. Mas, se há dinheiro para contratar, tem que haver recursos e vontade política para melhorar quesitos vitais para a qualidade do futebol praticado. As medidas aqui listadas custam bem menos do que o gasto em jogadores de primeira linha.

Só que, sem elas, daqui a pouco estaremos chamando um dos jogadores contratados a peso ouro de pereba porque ele não conseguiu dominar a bola por causa de um buraco.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.