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Rodrigo Mattos

Clubes que não priorizam Brasileiro têm perda financeira na sua cota na TV

rodrigomattos

16/08/2019 04h00

Ao priorizar mata-matas e copas ao Brasileiro, diretorias de clubes costumam usar como justificativa o menor número de jogos para ganhar títulos, a necessidade de focar em jogos decisivos e as premiações nestas competições. A temporada de 2019, no entanto, provocou uma mudança no cenário: o desempenho ruim no Nacional tem impacto financeiro pela posição no campeonato e pela redução de exibições de jogos na TV, mesmo sem rebaixamento. Mas alguns clubes continuam a ver nos mata-matas uma possibilidade de arrecadação superior se chegarem às fases finais além do óbvio aspecto esportivo.

Nesta temporada, quatro clubes – Cruzeiro, Grêmio, Athletico-PR e Internacional – têm preferido escalar titulares nos jogos de mata-mata (Copa do Brasil e Libertadores) e reservas em algumas rodadas do Nacional. Outros times como Flamengo e Palmeiras poupam alguns atletas em situações mais raras. Desses quatro, o Inter é o melhor posicionado no Nacional com a oitava colocação, o Athletico-PR está em 11o, o Grêmio, em 14o e o Cruzeiro, na 17o (zona de rebaixamento). Os quatro são semifinalistas da Copa do Brasil.

No contrato do Brasileiro, está estabelecido que 30% da remuneração vem da posição no campeonato, e 30% por exibição na TV. Serão R$ 660 milhões, portanto, distribuídos por essas variáveis na Aberta e Fechada. Cada posição na tabela do Brasileiro tem um impacto de R$ 1,65 milhão. Se acabar na 4a posição em vez da atual 14a, o Grêmio garante R$ 16,5 milhões a mais. Sua diretoria, no entanto, continua a ver como mais vantajosa a Copa. Na zona de rebaixamento, o Cruzeiro teria direito à cota zero por esse critério se o campeonato acabasse na posição atual.

"Nós, no Grêmio, fizemos uma avaliação para incluir apenas a fase de grupos e a primeira fase que participamos da Copa do Brasil nos valores previstos. Tudo que vem a mais é lucro. No Brasileiro, botamos como garantido a 8a posição. Então, não altera nosso orçamento se não ganharmos", explicou o presidente gremista Romildo Bolzan.

"Do ponto de vista financeiro, na Copa do Brasil garanto R$ 20 milhões e pouco só de chegar na final, e R$ 60 milhões para campeão.  E esportivamente, estamos mais perto do título", argumentou Bolzan, que reconheceu o impacto financeiro da posição do Brasileiro.

Ao contrário do Grêmio, o Internacional não estabeleceu a prioridade para as Copas, segundo conta o diretor de futebol do clube, Rodrigo Caetano. Mas o time tem usado reservas em algumas rodadas do Brasileiro enquanto sempre tem titulares nas fases decisivas da Libertadores e Copa do Brasil. A explicação é o excesso de jogos decisivos dos mata-matas, e a possibilidade de se recuperar no Nacional no segundo turno.

"Não tem uma decisão no Inter de priorizar. E sabemos dos impactos das variáveis (no contrato do Brasileiro). Mas não tem outra saída (em usar reservas) quando há tantos jogos decisivos da Copa do Brasil e da Libertadores em julho e agosto", justificou Caetano. "Não tem como ser diferente quando estamos a três jogos do título." Para o Brasileiro, a meta do Inter é pelo menos terminar no G6 para garantir vaga na Libertadores.

Há outro impacto nos ganhos dos clubes no Brasileiro por campanhas ruins: a Globo pode exibir menos os times e isso reduz o total ganho por cada um no final do ano. Na TV Aberta, cada jogo que passa na telinha garante em torno R$ 1 milhão para cada clube. No SporTV, para aqueles times que têm contrato fechado com a Globo, o valor também deve ficar em aproximadamente em R$ 1 milhão por clube por partida.

O blog apurou que a emissora leva em conta, sim, o interesse de cada jogo para o campeonato e o uso de reservas para escolher o que transmitir. Mas esse não é o único critério. Por exemplo, Inter e Grêmio têm três e quatro jogos na TV Aberta até a 20a rodada, respectivamente, número bem mais baixo do que os outros times grandes. O Athletico-PR, no entanto, é o time com mais jogos exibidos com um total de 11, o que se explica porque a emissora não tem contrato no pay-per-view com o clube. O Cruzeiro terá seis partidas.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.