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Rodrigo Mattos

CBF precisa expor erros do VAR após pênalti bizarro para o Santos

rodrigomattos

09/09/2019 04h00

Há 20 dias o chefe da comissão de arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba, fez um balanço sobre o VAR no Brasileiro: informou que houve só 10 erros capitais e 98% de acerto após 14 rodadas. Uma bela evolução em relação a 2018. Mas não explicou quais eram os lances em que houve equívocos. Pois, quando ocorre um erro bizarro como o pênalti marcado para Santos após intervenção do árbitro de vídeo, é preciso dar explicações mais claras para salvar a credibilidade do mecanismo.

No lance na Vila Belmiro, o santista Marinho sofreu um toque com o braço fora da área e caiu. Durante a queda, já dentro da área, ele fez um contorcionismo para simular que tinha sofrido novo contato que o desequilibrou. Não era o caso, foi só teatro.

O árbitro de vídeo Rodrigo Nunes de Sá viu algo (provavelmente um leve toque no pé) e chamou seu colega de campo Rodrigo Carvalhaes. Ele foi ao vídeo e deu o pênalti. Antes, a dupla tinha ignorado um pênalti real em Marinho em outra falta na área, em erro que não foi grotesco como esse no final do jogo.

A mudança de decisão do campo, por sinal, é quase um padrão. Estatística da CBF mostra que, em quase 80% dos lances em que vai revisar no vídeo, o árbitro altera o que tinha marcado de primeira. Portanto, a chamada para o VAR se tornou bem poderosa, dando enorme influência a quem está na cabine.

Como bem lembrou o colega Mauro Cezar Pereira, Rodrigo Nunes de Sá é o mesmo que estava no vídeo quando não foi dado pênalti para o Ceará quando o são-paulino Thiago Volpi atropelou o atacante do time nordestino. Esse lance não foi considerado um erro capital de arbitragem pela comissão da CBF que viu ali um choque normal. A informação é extraoficial.

Aí está a questão: Gaciba, que tem buscado transparência em suas explicações sobre o VAR, não diz de fato o que é erro e mau uso do mecanismo. De fora, o que transparece é falta de critério já que um atropelamento não merece revisão no vídeo ao lado do campo, enquanto um toque leve (ou inexistente) é revisado e vira penal.

Mas essa explicação precisa vir da CBF. A entidade adotou medida correta e transparente de expor as imagens do árbitro de vídeo em replays nas transmissões a partir do segundo turno. Falta agora uma transparência em relação aos critérios que são adotados pelos árbitros e quando são aplicados incorretamente. Se os áudios do VAR não podem ser expostos, que a confederação volte a fazer a lista de equívocos de arbitragem em seu site, que sumiu neste ano.

Não se trata de perseguição aos árbitros ou exigências de geladeira. Só que o público e jornalistas precisam ter elementos para entender qual o nível de interferência que deve ter o VAR na prática. Por que o pênalti marcado pelo Santos está bem longe da "mínima interferência, máximo benefício" pregada pela Fifa. E ocorreu em um jogo de disputa pela liderança do Brasileiro.

Sem uma explicação, a CBF corre o risco de ver de novo teorias conspiratórias voltarem à tona quando deveriam ter sido sepultadas pelo VAR. Pior, ninguém vai levar a sério a entidade quando apresentar a próxima estatística dizendo que há 98% de acerto com o VAR.

Ressalte-se, em defesa de Gaciba, que há um período de adaptação normal de um campeonato ao árbitro de vídeo. E que o critério pode ser mal entendido por árbitros neste contexto. Essencial é que a CBF fale sobre esses problemas, pois só assim vai haver uma melhora. Quando joga o erro para baixo do tapete, a confederação não evolui.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.