CBF tenta 'colar' em clubes para fugir do rótulo de inimiga do torcedor
As três listas de convocações para seleções brasileiras, no dia 20 de agosto, geraram uma enxurrada de críticas à CBF da torcida e da mídia. Não é algo insignificante para uma entidade que vive de imagem virar inimiga de seu público alvo. Ciente disso, a confederação tem feito movimentos para minimizar seu desgaste.
Primeiro, Tite tentou jogar na conta dos clubes o calendário, em meio a comentários leves sobre como torcedores tinham pedido a convocação de atletas. Em seguida, foi a vez de o presidente da CBF, Rogério Caboclo, escrever um longo artigo para dizer que clubes e a entidade têm interesses comuns e caminham "juntos".
Seu texto começa com a seguinte premissa: "A seleção brasileira é tão forte quanto forem os nossos clubes. O inverso também é verdade. Quanto mais forte e vencedora for a seleção brasileira, maior é o prestígio do nosso futebol e mais valorizadas são as marcas que o representam."
A primeira frase é absolutamente verdadeira. O time nacional precisa de times que revelem jogadores de qualidade para ser um time forte. Já a segunda sentença é discutível: o que ganham exatamente os clubes com uma seleção forte?
O único ganho real que podem ter é a valorização de jogadores que poderão ser vendidos. Mas as convocações em meio a competições fragilizam os clubes brasileiros tão carentes de jogadores de qualidade. Não há nenhuma liga de elite do mundo que tire jogadores em meio a rodadas do campeonato nacional como aqui. E, sejamos sinceros, o tal ganho de imagem com vitórias da seleção é balela. A CBF nunca promoveu as marcas dos clubes lá fora, só pensa na seleção.
Mais adiante, Caboclo, aliás, deixa bem claro sua prioridade: "Portanto, assumimos na CBF dois conceitos: o primeiro é que não existem amistosos. O que existe são jogos preparatórios. E segundo que as seleções brasileiras não mais abrirão mão de ter os melhores jogadores em campo."
Ou seja, não fará nenhuma concessão a clubes, seja na seleção principal, seja nas de base, como tem sido política da entidade. O conceito de juntos da CBF portanto é "eu primeiro, e depois você vem junto atrás".
Por fim, a CBF tenta jogar na conta dos clubes também a responsabilidade do irracional cronograma de jogos do Brasil: "O calendário é o grande desafio do futebol brasileiro. Ele não é uma criação da CBF. Entendo que fazer calendário é a arte de traduzir em datas compromissos contratuais assumidos por todos os clubes em relação aos campeonatos que disputam e pelos quais recebem prêmios relevantes, que constituem parte majoritária de suas receitas anuais." E completa: "A CBF compartilha com os clubes e federações essa responsabilidade, pois isso faz parte da sua missão."
Trata-se de uma afirmação falsa em relação à participação dos clubes. Por estatuto, a CBF é a responsável por fazer o calendário, não há um fórum de clubes para opinar. E nem a confederação chama os clubes para discutir o cronograma de jogos. Chama, sim, as federações para conversar sobre o assunto. A redução de datas de Estaduais para 2020 foi discutida com as entidades estaduais que deram seu aval para a mudança, ainda que agora algumas queiram fazer com 18 datas originais.
O fato de os clubes receberem dinheiro pelos Estaduais não justifica colocar a culpa neles pelo calendário. A própria Globo, que é quem paga pelos Estaduais, deseja a extensão do Brasileiro para mais meses no ano, talvez iniciando em fevereiro. Nessa situação, é meio óbvio que a emissora estaria disposta a discutir a manutenção da verba atual destinada a clubes em troca do aumento do Nacional. É só a CBF, que é parceira da emissora, convida-la para dar sugestões sobre o tema. Quem não tem interesse na mudança são as federações, aliadas e eleitoras da CBF, pois os Estaduais são a base do status quo de poder deles.
Por fim, Caboclo dá o problema como resolvido: "A solução do calendário a partir de 2020 já foi construída, com a paralisação das competições em datas Fifa, preservando os clubes e fortalecendo ainda mais a Seleção Brasileira. Não podemos concorrer com nós mesmos. Essa luta já acabou."
Bem, o calendário de 2020 prevê a Copa América sem paralisação do Brasileiro, assim como a Olimpíada. Isso, obviamente, não é mencionado pelo presidente da CBF. Se a confederação não vai abrir mão dos melhores, essa luta não acabou. E quem vai levar a pior de novo serão os clubes. Juntos.
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