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Rodrigo Mattos

'Se o Abramovich pega um time no Brasil, ele vai preso', diz Andrés

rodrigomattos

09/10/2019 20h10

A audiência sobre clube-empresa na Câmara revelou as barreiras para o projeto de lei do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ) que tenta emplacar a proposta ainda em outubro. O presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, ressaltou que questões do ambiente do futebol brasileiro poderiam prejudicar a chegada de investidores, inclusive a pressão da imprensa. Já o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, mostrou-se contrário a boa parte dos pontos do projeto.

O texto do projeto de lei já foi modificado algumas vezes por Pedro Paulo por pressões de clubes. Sua ideia é que o projeto de clube-empresa ajude a sanar o endividamento das agremiações que atingiu R$ 7 bilhões, segundo seu levantamento. Um dos mecanismos é um novo programa de refinanciamento fiscal para os clubes. Segundo Pedro Paulo, os descontos previstos podem abater de 25% a 30% da dívida com o governo das agremiações.

"Por que isso? Quando vira empresa, tem possibilidade de investimento externo. Vamos imaginar um Botafogo, a dívida de R$ 350 milhões fiscal… Se vier um investidor europeu em euros,  cai para cinco vezes o valor com o investimento em euros", analisou o deputado.

Pela apresentação de Pedro Paulo, os clubes que não quisessem se transformar em empresa poderiam continuar como associações sem fins lucrativos, sem sofrer nenhuma modificação. Mas o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, discordou e entendeu que a proposta do deputado atrapalha os clubes que não virarem empresas.

ltimo ponto que é relativo ao betting rights (direitos de exploração do nome em apostas). É uma receita muito importante. Está sendo direcionado apenas para os clubes que se transformarem em empresas. O Flamengo vem pleitear que seja direcionado para todo os clubes, e também para o Flamengo que tem 41 milhões de torcedores. Se não está tirando da marca Flamengo", criticou Landim. Ele ainda reclamou do aumento do mecanismo de solidariedade de 5% para 10% nas transferências, o que seria um aumento da carga para clubes compradores.

Já Andrés Sanchez não foi oposição ao projeto, mas ressaltou que a legislação não vai resolver o problema de gestão do futebol brasileiro. "Vai virar empresa e o gerenciamento vai ficar bom? Tem empresa que fali, clube não vai ser diferente. O grande problema é trabalhista. Se a Câmara não mexer no trabalhista, não vai adiantar nada", disse ele.

E reconheceu falhas na gestão ao dizer: "Tem clube que não pode pagar salário de R$ 500 mil, R$ 600 mil, R$ 400 mil e paga. Não aguenta pressão da torcida, e paga porque escuta que vai cair, inclusive o meu. Não vou nem falar dos outros."  

Em relação à esta parte trabalhista, o deputado Pedro Paulo tem em seu projeto que jogadores com salário mais alto, provavelmente R$ 11.600, possam contratar como pessoa jurídica e não como legislação trabalhista. Outra medida é que os jogadores passem a ter o direito de rescisão com dois meses de salário atrasado, e não três como atualmente.

Mais adiante na discussão, Andrés apontou que o excesso de críticas e holofotes pode afastar investidores do futebol. "Imagina se o Abramovich, dono do Chelsea, pegar um time do Brasil? Ele vai preso, ele vai preso, vão falar de máfia russa. Vocês vão ver o que eles vão fazer", completou em referência ao russo Roman Abramovich, dono do clube inglês. Em seguida, quando indagado, afirmou que os russos investidores da MSI no Corinthians foram inocentados em investigações e processos na Justiça brasileira. O deputado Pedro Paulo dizia que o Corinthians tem interesse em se transformar em empresa, mas o presidente corintiano não falou de nenhum projeto neste sentido durante a audiência.

Sua fala foi complementada pelo presidente do Vitória, Paulo Carneiro, que criticou o fato de no Brasil não se aceitar que clubes tenham como donos investidores estrangeiros.  "A gente se sente dono do clube, e não somos donos de porra nenhuma. Os donos são os torcedores. O dono do Milan é chinês, mudou o que para o torcedor? O dono do Manchester é americano, e mudou o que para o torcedor? Os clubes pequenos precisam mais do que os grandes porque não têm como se sustentar com as receitas próprias", afirmou ele.

O presidente da Ferj (Federação de Futebol do Rio de Janeiro), Rubens Lopes, fez um contraponto que, no Rio, houve mais de 30 clube-empresa e nenhum resistiu na Série A do campeonato.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.