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Rodrigo Mattos

Renato precisa aprender a admitir erros para se tornar técnico melhor

rodrigomattos

28/10/2019 04h00

Primeiro, sejamos claros, Renato Gaúcho é um dos nossos melhores técnicos. Está certo quando afirma que a goleada sofrida para o Flamengo não desfaz os méritos que tem seu trabalho de três anos à frente do Grêmio, o que produziu o futebol mais vistoso no país até 2018. Dito isso, ele é um símbolo de determinado grupo de treinadores brasileiros que precisa aprender com derrotas.

Logo após os cinco gols tomados no Maracanã, ele atribuiu a derrota às falhas do time gremista. E ressaltou: "O Grêmio jogou muito abaixo, e tivemos muitas falhas individuais. Foi um placar anormal." Após derrotar o Botafogo, ele classificou o resultado n no Maracanã como "acidente". Outra de Renato foi ressaltar o investimento e a maior qualidade do elenco rubro-negro como se esses itens justificassem a goleada sofrida.

Bem, vamos lá. O Grêmio falhou bastante no Maracanã mesmo. Mas, se formos analisar de forma detalhada, os erros não foram individuais apenas, foram também coletivos. Uma das questões era a da marcação individual, ou por encaixe, usada por Renato que deixou espaços para o Flamengo principalmente em bolas paradas. Sobre isso, recomendo a boa análise do site português "Lateral-esquerdo" que detalhou cada lance ofensivo rubro-negro para explorar o tipo de marcação feito pelo técnico gremista.

"Ah você não entende nada de tática e está citando um português para rebater o Renato" Pois é exatamente essa a questão: devemos procurar conhecimento onde este estiver, e admitir nossas carências. Assisti ao vivo ao Flamengo x Grêmio e percebi vários problemas no Grêmio, mas não observei a forma como Jesus explorou determinadas deficiências do time de Renato. O Brasil tem ótimos analistas táticos, isso não significa que não possa aprender muito com os de fora. Será que Renato não deveria fazer o mesmo e entender em que errou?

Peguemos o exemplo de outros técnicos como Jorge Sampaoli. O técnico santista admitiu que há uma superioridade de estrutura rubro-negra em relação à santista: "A distância para o Flamengo existe. O Flamengo é um time armado, com um planejamento para uma equipe de elite. Nós tivemos muita complicação para armar um time que supostamente esteve por muito tempo em cima na tabela e nos deu essa valorização." Obviamente que a força financeira rubro-negra tem a ver com essa diferença. Mas o primeiro passo para tentar superar um rival que lhe é superior é reconhecer onde ele é mais forte.

Um exemplo: quando assumiu o Borussia Dortmund na primeira divisão alemã, Jurgen Klopp, ajudou a mudar a realidade tática da Bundesliga. Seu jogo de pressão e intensidade na marcação desde o campo ofensivo (Gegenpressing) surpreendeu os adversários e deu dois títulos seguidos ao time que saíra de um período de fracassos constantes. Resultado: depois de duas temporadas, os outros clubes alemães imitaram o Borussia e até o superaram em seu próprio jogo. Isso inclui o poderoso Bayern Munique que voltou a ser dominante em seguida. Mudou a liga alemã.

É assim em todas as áreas de conhecimento. Um rival competitivo te supera por larga vantagem, você o estuda para entender como ele fez isso. A partir daí, tenta adotar práticas parecidas, depois fazer adaptações e criar algo novo em seguida transformando o que o rival lhe deu.

Essa digressão gigante é para dizer que bons técnicos como Renato deveriam estar mais preocupados em procurar os mérito do trabalho de Jesus (e também de Sampaoli) para copia-los e depois transforma-los do que em tentar minimizar suas realizações para manter o próprio status. Sejamos sinceros, o mercado de técnicos no Brasil já se abriu, não há muito mais volta. É como quando abriu o mercado de computadores no Brasil: ninguém vai aceitar mais um um computador lento de internet discada enquanto o vizinho tem um voando.

 

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.