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Rodrigo Mattos

Ao contrário do que diz Mano, Flamengo atual seria impossível com Abel

rodrigomattos

30/10/2019 16h47

Em entrevista ao programa "Bola da Vez", o técnico do Palmeiras, Mano Menezes, defendeu que o Flamengo também teria sucesso com Abel Braga no comando e os atuais jogadores, assim com Jorge Jesus no banco. Sua tese baseia-se em dois argumentos: chegaram quatro reforços (Rafinha, Filipe Luís, Gerson e Pablo Marí) e o fato de o atual treinador cruzeirense ter ficado apenas quatro meses à frente do time rubro-negro.

A declaração exata de Mano foi: ˜Penso que com esses jogadores aí o Abel também teria sucesso." E acrescentou que o técnico esteve "quatro, cinco meses" no Flamengo no início da preparação da temporada.

Há elementos para testar sua teoria baseado no histórico de trabalho do próprio Abel. Primeiro, o tempo: o técnico do Cruzeiro esteve quatro meses e 24 dias no Flamengo. Jesus completa agora quatro meses e dez dias, portanto, um pouco menos.

O rendimento é obviamente bem diferente com o português com quase 90% dos pontos disputados no Brasileiro e dez pontos de vantagem sobre o vice, e Abel tendo deixado a equipe em sexto com dez pontos, em seis jogos. Na Libertadores, Abel passou apertado na fase de grupos, o europeu levou o time à final. Mas há a questão dos quatro jogadores a mais que, segundo Mano, fazem a diferença. Então, vejamos como Abel poderia lidar com eles pelo seu histórico.

Logo no inicio da temporada, Abel declarou que não gostava de time de índio, isto é, com um volante só. William Arão, com ele, sempre foi segundo volante para ter um mais marcador que era Cuellar ao seu lado. Nada indica que com sua filosofia de jogo abriria mão de ter um volante mais pesado, só marcador. Ou seja, com Abel, o mais provável é que Arão ou disputasse a posição com Gerson, ou que Gerson fosse deslocado para meia para disputar com Arrascaeta e Everton Ribeiro. Ou nem fosse contratado.

Pois bem, Jesus escalou Arão como primeiro volante, ensinou o a se posicionar mais à frente e o modificou como jogador. O próprio atleta reconhece que o técnico pediu funções antes desconhecidas para ele enquanto atuava como primeiro volante. Por isso, abriu espaço para Gerson como segundo volante (ou meia dependendo da situação de jogo). Ambos jogam bem avançados buscando sufocar o rival quando o Flamengo perde a bola na frente.

Na defesa, Rafinha, Filipe Luís e Pablo Marí jogam em linha bem avançada de defesa. Assim, o objetivo é deixar atacantes em impedimento ao mesmo tempo que se marca por zona. Há espaços nas costas da linhas, mas é isso que permite o sufoco ao adversário. Abel posicionava o Flamengo muitas vezes com linha baixa de defesa, com duas linhas de marcadores, porque queria um jogo "mais reativo" para explorar os contra-ataques. Será que os jogadores renderiam igual jogando mais recuados?

Quanto à linha baixa, uma outra característica do Flamengo de Abel era recuar quando conseguia um gol, e também jogava mais postado atrás quando era visitante. Foi assim contra o San José de Oruro, na estreia da Libertadores, em que ganhou de 1×0. Foi assim também diante da LDU no Equador. Será que nas eliminatórias diante do Grêmio e Internacional Abel teria botado o time para pressionar os adversários no Beira-Rio e Arena Grêmio como fez Jesus? E seria possível um goleada de 5×0 na semifinal da Libertadores para um técnico que pedia o recuo do time após o primeiro gol? Ou seria possível vitórias como visitantes diante de times como Athletico-PR e Cruzeiro em o rubro-negro foi ofensivo?

Então, chegamos ao ataque. O setor ofensivo atualmente do Flamengo é bastante móvel com trocas de posições constantes para atacar espaços. Bruno Henrique não é só ponta-esquerda, nem só centroavante, nem só ponta-direita. E os meias se movem de fora para dentro para criar, assim como os laterais aparecem para construir.

Bem, Abel tentou, sim, um rodízio de posições no ataque do Flamengo. Gabigol virou ponta-direita, Bruno Henrique, centroavante. Arrascaeta, ponta-esquerda, e Everton Ribeiro era armador pelo meio. Só que eles ficavam mais fixos nessas posições. E, mais do que isso, quando se deslocavam não era de forma coordenada, abrindo buracos no jogo coletivo. Todos caíram de rendimento, e o time era facilmente marcado.

Outra questão: um dos principais trunfos do atual Flamengo é a marcação pressão que sufoca até o goleiro adversário. A partir daí o rival é obrigado a lançar bola longa que pega Arão, Gerson e defensores posicionados para retomar. Abel chegou a botar o Flamengo para marcar pressão em certos momentos. Só que sua defesa ficava lá atrás, então, abria-se um buraco no meio em que os adversários conseguiam jogar. Sua média era de tomar praticamente um gol por jogo.

Feitas todas essas observações, que nada mais são do que mera análise do que era o jogo do Flamengo, fica difícil de acreditar que time rubro-negro teria o mesmo rendimento com Abel Braga, pois quatro jogadores não mudam a forma de um técnico enxergar futebol.

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.