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Rodrigo Mattos

Medo de voto de rivais vira arma na eleição no São Paulo

rodrigomattos

24/07/2013 06h00

( Para seguir o blog no Twitter: @_rodrigomattos_ )

Deflagrado pela crise no futebol, o processo eleitoral do São Paulo para suceder o presidente Juvenal Juvêncio está contaminado pelo medo de influência de rivais no poder do clube. O opositor Marco Aurélio Cunha é atacado por ter trabalho em outros times. O churrasco no clube que acabou em confusão também envolveu acusações clubísticas. E é justamente esse temor de que torcedores de outros times interferiram no comando são-paulino um dos motivos que emperram a democracia no Tricolor na explicação dos cartolas.

Dentre os 12 maiores clubes brasileiros, há apenas quatro que no momento não têm eleições completamente diretas dos sócio. Entre eles, estão o Atlético-MG, o Cruzeiro e o Internacional, que tem um sistema misto em que o sócio vota em candidatos escolhidos pelo Conselho. O quarto clube é o São Paulo, onde os conselheiros escolhem o presidente.

Foi esse tipo de modelo que permitiu ao presidente Juvenal Juvêncio conseguir um terceiro mandato. É esse tipo de modelo que dá ao atual mandatário o controle do Conselho Deliberativo.

O blog ouviu três membros da diretoria sobre a eleição direta. Sob anonimato, dois deles apontaram ser impossível abrir a decisão sobre o presidente aos sócios porque um percentual entre 40% e 50% deles torcem por outros times, principalmente Corinthians e Palmeiras. Um terceiro indicou questões de legislação como empecilho, e não vê problema nos fãs de outras equipes.

Nas palavras de um dos cartolas a questão é que a influência de torcedores de outros times têm que ser filtrada dentro do clube, o que ocorreria por meio da eleição pelo Conselho. Mas, no contraponto, um outro dirigente entende que os adeptos de outros times são minoritários portanto teriam influência limitada.

Aliados de Juvenal usam esse temor nos ataques ao opositor Marco Aurélio Cunha. Dizem que por conta dele ser profissional e já ter trabalhado no Santos isso deveria impedir sua candidatura. A organizada Independente também o chama de santista.

Cunha já classificou como ridícula essa campanha, e tem a maior parte da sua vida esportiva ligada ao São Paulo. Até parte dos membros da diretoria admitem que não dá, de fato, para acusa-lo de não ser um são-paulino.

Nem por isso o argumento deixa de ser usado contra ele, como nem por isso deixou de ser usada a alegação de que não dá para ter voto direto por causa de torcedores rivais que são sócios.

A verdade é que até parte dos membros da diretoria sabem ser preciso modernizar as regras eleitorais no São Paulo. Pelo modelo atual, é preciso que um candidato tenha apoio de 55 conselheiros para lançar uma chapa em abril de 2014. Elege-se um terço de conselheiros novos, 80, que se juntam a outros dois terços formados por beneméritos e vitalícios, 160. Ou seja, o maior peso na eleição do presidente está com os conselheiros que nem precisam de votos de sócios.

Isso aumenta a tendência de perpetuação no poder de quem já está lá. Em meio à crise, com a antecipação do debate eleitoral, há tempo para discutir esse modelo. Mas o que mais se ouve são conversas sobre quem serão os candidatos, não sobre o formato da eleição.

 

Sobre o Autor

Nascido no Rio de Janeiro, em 1977, Rodrigo Mattos estudou jornalismo na UFRJ e Iniciou a carreira na sucursal carioca de “O Estado de S. Paulo” em 1999, já como repórter de Esporte. De lá, foi em 2001 para o diário Lance!, onde atuou como repórter e editor da coluna De Prima. Mudou-se para São Paulo para trabalhar na Folha de S. Paulo, de 2005 a 2012, ano em que se transferiu para o UOL. Juntamente com equipe da Folha, ganhou o Grande Prêmio Esso de Jornalismo 2012 e o Prêmio Embratel de Reportagem Esportiva 2012. Cobriu quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

Sobre o Blog

O objetivo desse blog é buscar informações exclusivas sobre clubes de futebol, Copa do Mundo e Olimpíada. Assim, pretende-se traçar um painel para além da história oficial de como é dirigido o esporte no Brasil e no mundo. Também se procurará trazer a esse espaço um olhar peculiar sobre personagens esportivas nacionais.